Depois do sucesso como o empresário Alex, em Verdades Secretas, Rodrigo Lombardi voltou às novelas em um papel bem diferente. Se, na trama anterior, seu personagem provocou polêmica por questões como o book rosa, em Velho Chico (RBS TV, 21h15min) a reflexão é política: como o corajoso capitão Ernesto Rosa, deu voz às queixas e mazelas de trabalhadores rurais. Lombardi se despede do folhetim no oitavo capítulo, quando seu personagem é assassinado. Na entrevista a seguir, o ator fala sobre sua satisfação com esse trabalho e sobre o desejo de não ficar preso à posição de galã.
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Como está encarando este personagem em Velho Chico?
O Ernesto é um capitão de formação militar que chega em uma cidade dominada por coronéis de formação. Naquela época, os coronéis tinham permissão para comprar esses títulos para defender suas terras em lugares em que a polícia não chegava. Só que, junto com isso, vinha um poder e uma opressão sobre o povo local. Tiravam proveito de tudo e de todos. Ernesto não concorda com esse sistema e começa a querer botar na cabeça das pessoas que isso é errado, que eles podem se livrar desse “cabresto”. Isso gera um desconforto para o poder local, exercido pelo coronel Jacinto (Tarcísio Meira). Trava-se uma briga de famílias e de forças que culmina em um romance e se transforma no folhetim clássico. Só que com pegada mais épica.
Muitas pessoas acham que tirar o horário nobre do eixo Rio-São Paulo e apostar num romance clássico era o que a faixa pedia. Qual sua opinião?
Acho que essa novela mistura o universo lírico e lúdico com a realidade. Com o passar dos anos, perdemos um pouco nossa identidade. Estamos correndo atrás do prejuízo porque a gente esquece quem é. Velho Chico resgata isso, mostra uma brasilidade às vezes deixada de lado por acharmos que, por viver num mundo onde tudo acontece ao mesmo tempo, precisamos pensar apenas em consumir. Mas o Brasil não é só das grandes metrópoles.
Você tem sido muito requisitado como galã na TV. Como encara um personagem como esse, em que essa função não está incluída?
Vaidade é algo que um ator não pode ter. E meu trabalho na TV é mais antigo, eu vim da comédia e do teatro. Sou um profissional de composição de personagens. E o grande barato entre um trabalho e outro é se desconstruir. Quando chega o momento de se despedir de um personagem, essa “desintoxicação” às vezes é prazerosa, em outras é mais difícil e dolorosa.
Você fez questão de frisar que veio da comédia e do teatro. O rótulo de galã incomoda?
Ah, já me incomodou. Hoje, não. Não dá para pensar nessas coisas. O próprio Luiz Fernando Carvalho (diretor de Velho Chico) me deu a possibilidade de sair desse lugar em Meu Pedacinho de Chão, de voltar para a minha raiz e explorar bem a expressão corporal, a voz...
Quais seus planos após o fim de seu trabalho em Velho Chico?
Vou fazer um filme do Paulo Sacramento, sobre a vida das pessoas embarcadas em plataformas de petróleo. O grande lance vai ser mostrar a rotina dentro de um lugar que a gente não imagina como é.
Rodrigo Lombardi despede-se de Velho Chico no capítulo da próxima terça-feira.
* Por Márcio Gonçalves