James Franco tem, nos últimos anos, procurado dar estofo a sua carreira de ator e produtor abraçando projetos, para os padrões do cinema comercial americano, vistos como "autorais". Assim, entre bobagens como A Entrevista, ele tem aparecido em títulos de realizadores afinados com o universo "indie", como Harmony Korine, em Spring Breakers: Garotas Perigosas e a iniciante Gia Coppola, nova representante do icônico clã, em Palo Alto – adaptação de um livro com tintas autobiográficas de Franco. Em Tudo Vai Ficar Bem, em cartaz no circuito, Franco atua sob direção do alemão Wim Wenders, um dos mais importantes realizadores do cinema mundial – e o ator tem a caminho ainda a parceria com outro alemão de peso, Werner Herzog, em Rainha do Deserto.
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Wenders, por sua vez, retoma em Tudo Vai Ficar Bem seu interesse pela ficção, sete anos após a fria recepção de crítica e público ao seu problemático Palermo Shooting. No período entre eles, o diretor dedicou-se ao cinema documental e apresentou jóias como Pina e O Sal da Terra.
Para quem esperava tanto a volta de Wenders à reconhecida boa forma quanto ver Franco em uma atuação que o colocasse em um patamar mais elevado entre os atores de sua geração, Tudo Vai Ficar Bem é uma decepção. O roteiro do norueguês Bjorn Olaf Johannessen encenado por Wenders lança a expectativa para se acompanhar um denso drama que tem como cenário principal uma região gelada do Canadá. Franco vive Tomas, escritor diante de um bloqueio criativo para apresentar seu próximo livro, impasse que se dá em meio à crise no relacionamento com sua mulher, Sara (Rachel McAdams).
Um episódio será determinante na narrativa e terá consequências ao longo de uma década: Tomas atropela e mata um garotinho que brincava de trenó com o irmão. A tragédia vai interligar o escritor com a traumatizada mãe da criança, Kate (Charlotte Gainsbourg), e o irmão sobrevivente, Christopher (Robert Naylor, quando crescido).
Após um começo promissor – a sequência do atropelamento da criança e o primeiro contato de Tomas com Kate é engenhosa em seu equilíbrio de suspense e drama –, Tudo Vai Ficar Bem sucumbe ao marasmo de seu protagonista. Franco, apesar do esforço que faz com o olhar vago e a fala sussurrante, parece aquém das exigências dramatúrgicas para alcançar a densidade de composição proposta pelo roteiro.
Também apático em sua direção, Wenders tenta, em vão, imprimir algum ritmo na narrativa, com elipses na montagem e efeitos ópticos que exploram a profundidade de campo. Este último recurso, aliás, deve ter relação com o uso do 3D que o diretor fez sem nenhuma justificativa aparente – e que não está disponível nas cópias lançadas no Brasil.
É emblemático observar que Wenders, ao longo de sua aclamada trajetória, fez da situação de deslocamento (físico, existencial, espiritual) de seus protagonistas o motor dramático de filmes espetaculares – entre outros, Alice nas Cidades, No Decurso do Tempo, Paris, Texas e Asas do Desejo. Nas tentativas de abarcar grandes temas contemporâneos, visão ambiciosa que marca sua produção nas últimas décadas, como se viu O Fim da Violência e Medo e Obsessão, o cineasta desregulou seu foco. Diluiu a potência de seus filmes intimistas em dramas epidérmicos sobre os males do mundo. Tudo Vai Ficar Bem sintetiza essa trajetória irregular do diretor. Mira no indivíduo, mas acerta no vazio.