Foram 2h40min de festa para esse tal de rock'n'roll: a casa carioca de espetáculos Viva Rio recebeu na noite da última terça-feira convidados e jornalistas para o primeiro show do projeto Nivea Viva Rock Brasil, reunindo no mesmo palco Nando Reis, Paula Toller, Pitty e Os Paralamas do Sucesso para celebrar os 60 anos do gênero. A estreia da turnê nacional será em Porto Alegre, no próximo dia 3, a partir das 16h30min, em uma apresentação gratuita no Anfiteatro Pôr do Sol.
A banda de apoio era formada só por gente boa: o produtor e diretor musical do espetáculo Liminha no baixo, Dado Villa-Lobos (guitarrista da Legião Urbana), João Barone (baterista dos Paralamas), Maurício Barros (tecladista do Barão Vermelho), Rodrigo Suricato (voz, guitarra e violão do grupo Suricato) e o talentoso Milton Guedes na gaita, saxofones e flauta.
A viagem pelo rock brasileiro em mais de 35 músicas começou com Pitty, Paula e Nando cantando um pot-pourri que lembrou Celly Campelo com Banho de Lua e incluiu três sucessos da dupla Roberto e Erasmo Carlos: É Proibido Fumar, Pode Vir Quente que Eu Estou Fervendo – com direito até ao manjadíssimo riff de Seven Nation Army, da banda americana The White Stripes – e Quero que Vá Tudo pro Inferno.
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Em seguida, foi a vez de homenagear Os Mutantes e Rita Lee, com Panis et Circenses em fraca interpretação de Pitty, Ando Meio Desligado e Agora Só Falta Você – introduzida pela guitarra de Under My Thumb, dos Rolling Stones. A bela Paula mostrou personalidade interpretando a clássica Ovelha Negra, acompanhada pelas guitarras de Suricato e Dado.
Depois da única citação ao mestre Raul Seixas, com Nando mandando bem na antológica Gita, foi a vez do rock oitentista dominar a cena. Como a maioria dos músicos no palco despontou na década de 1980, o repertório criado pelo jornalista Hugo Sukman foi generoso com o período.
A aparição do guitarrista Herbert Vianna e do baixista Bi Ribeiro foi saudada com entusiasmo pela plateia, que levantou para dançar os hits titânicos Sonífera Ilha e Marvin (ambas com Nando) e paralâmicos Óculos e Meu Erro.
– O que estamos contando aqui são as histórias das nossas vidas – disse Dado antes de fazer uma performance pungente cantando Tempo Perdido, da Legião.
A nostalgia dos 1980 continuou com Será, Até Quando Esperar (a música da Plebe Rude foi defendida por Pitty), Como Eu Quero (Paula brilhando de novo, lembrando sua banda Kid Abelha), A Dois Passos do Paraíso, Ciúmes (a canção do Ultraje a Rigor foi finalizada com o riff de Boys Don't Cry, do grupo inglês The Cure), Olhar 43 e Fullgás.
A última parte do concerto destacou nomes como Cássia Eller (Nando cantou sua composição Segundo Sol, sucesso na voz da saudosa intérprete), Skank (Vou Deixar), Los Hermanos (Anna Júlia), Chico Science & Nação Zumbi (Praieira), Charlie Brown Jr. (Proibida pra Mim) e Raimundos (Mulher de Fases). A finaleira, com todos juntos no palco, botou a galera toda para cantar as inesquecíveis Último Romântico, de Lulu Santos, e Pro Dia Nascer Feliz, do Barão dos tempos de Cazuza.
Claro que faltou muita coisa – era inevitável que músicas, artistas e bandas importantes na história do rock BR ficassem de fora do show. Mas foram feitas algumas escolhas difíceis de engolir.
Teve Suricato demais e Raul Seixas de menos – como assim, só uma música do maluco beleza? E só uma do poeta Cazuza?
Também faltou rock sulista no roteiro. Você Não Sabe o que Perdeu, da Cachorro Grande, estava prevista no setlist e seria interpretada por Nando Reis – mas, por alguma razão, acabou caindo. Será que vai voltar ao repertório na capital gaúcha?
Mas o mais injustificável é a ausência do melhor grupo que o Brasil já teve: não há nenhuma música do Secos & Molhados. Será que o som de Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad não era rock'n'roll?
* O colunista viajou ao Rio a convite da Nivea
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