Diretor nascido em Mar del Plata, Argentina, mas naturalizado brasileiro desde o início de sua carreira, Hector Babenco já foi e voltou a Hollywood diversas vezes, principalmente por conta do sucesso internacional de Pixote: A Lei do Mais Fraco, que ele dirigiu e que foi lançado em 1981. Ironweed (1987) e Brincando nos Campos do Senhor (1991) são coproduções norte-americanas que ele rodou entre os Estados Unidos e o Brasil, e Carandiru (2003), que filmou integralmente em São Paulo, é um dos maiores sucessos de público do cinema nacional desde a chamada retomada da produção, nos anos 1990.
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A nova ponte aérea estabelecida pelo diretor de 70 anos se deu por conta de Meu Amigo Hindu: o novo filme, estreia desta semana nos cinemas do país, é genuinamente brasileiro, porém, teve cenas rodadas nos EUA e tem como protagonista o ator Willem Dafoe, duas vezes indicado ao Oscar (por Platoon, em 1987, e A Sombra do Vampiro, em 2001).
Na trama, Dafoe interpreta um cineasta nascido no Exterior vivendo no Brasil que descobre ter um câncer terminal. Seu médico (Reynaldo Gianecchini) lhe dá "dois a três meses de vida". E indica: sua única salvação é ir aos Estados Unidos para realizar um transplante de medula.
O nome do personagem é Diego, mas sua história é claramente inspirada na experiência do próprio Babenco, sobrevivente de uma árdua batalha contra um tumor – superada após uma longa jornada que incluiu transplante e outros procedimentos e que foi realizada na região de Seattle.
O "amigo hindu" do título é encarnado pelo garoto Rio Adlakha. Ele só aparece na metade final do longa, quando Diego se encontra em recuperação no hospital – trata-se de uma criança, igualmente em tratamento, com quem ele estabelece uma relação. Antes, o espectador acompanha o deteriorar do relacionamento com sua mulher (Maria Fernanda Cândido) e a materialização do drama de "ver a morte de perto" – o personagem que representa a morte, ou a força a carregá-lo a outro plano, é interpretado por Selton Mello.
Guilherme Weber vive o irmão de quem o protagonista recebe a doação que permite a realização do transplante. Bárbara Paz encarna uma personagem que representa quem ela é na vida real – a atriz que se tornou conhecida após participar de um reality show com quem Babenco se casou após separar-se de Xuxa Lopes, sua companheira à época da luta contra a doença.
Uma curiosidade é o personagem Davis (Phil Miler), que o hospeda em sua recuperação pós-cirurgia nos EUA – figura inspirada no pintor e cineasta Julian Schnabel. Meu Amigo Hindu foi o filme de abertura da Mostra de São Paulo realizada em outubro.
MEU AMIGO HINDU
De Hector Babenco.
Com Willem Dafoe, Maria Fernanda Cândido, Reynaldo Gianecchini, Bárbara Paz, Selton Mello, Guilherme Weber e Rio Adlakha.
Drama, Brasil, 2015, 124min, 16 anos.
Em cartaz nos cinemas.