Em entrevista concedida a ZH, Willem Dafoe disse gostar do "humor selvagem" de Hector Babenco. A expressão ajuda a entender não só o homem que inspirou a incrível história de Meu Amigo Hindu, mas também o artista que, passados alguns anos, conseguiu olhar para a própria trajetória com algum distanciamento.
O humor do filme é ácido. Em alguns trechos, há amargura. Chega a ser constrangedor ver Diego, o alter ego do diretor, sendo rude com amigos e com a própria mãe (consideremos que o irmão pedindo US$ 1 milhão para ser seu doador é algo restrito à ficção).
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Em geral, é mais fácil se comover com uma história de superação em meio à, vamos dizer assim, selvageria. Mas o fato é que esse aparente despudor de Babenco para consigo mesmo fica na superfície: em outros momentos, Diego revela poder de atração, sexual inclusive, que evidencia uma autoexaltação tola, infantil.
Também não funciona bem a opção pelos diálogos em inglês, ao menos no Brasil – Wagner Moura já mostrou na série Narcos (2015) que atores falando línguas que não são as suas podem travar, perdendo a naturalidade da expressão. A festa no primeiro ato, com a participação de vários intérpretes brasileiros, é exemplar desse problema em Meu Amigo Hindu.
A atuação de Dafoe, em compensação, é boa. Seus diálogos com "a morte", representada pela figura de Selton Mello, são os melhores momentos do filme – contêm doses equilibradas de humor e reflexões sobre o fim da vida. As homenagens a clássicos do cinema (Cantando na Chuva na performance de Bárbara Paz, O Sétimo Selo na partida de xadrez) também funcionam, ainda que sejam óbvias.
No fim das contas, Meu Amigo Hindu é irregular. Mais confessional do que Coração Iluminado (1998) e O Passado (2007), outros longas com referências autobiográficas de Babenco, melhor do que O Passado, pior do que Coração Iluminado.
MEU AMIGO HINDU
De Hector Babenco.
Com Willem Dafoe, Maria Fernanda Cândido, Reynaldo Gianecchini, Bárbara Paz, Selton Mello, Guilherme Weber e Rio Adlakha.
Drama, Brasil, 2015, 124min, 16 anos.
Em cartaz nos cinemas.
Cotação: 2 estrelas (de 5).