Com apoio de instituições públicas e privadas, um circuito alternativo de cinemas sobrevive na região central de Porto Alegre à margem do circuito exibidor focado nas grandes produções de Hollywood. Preços acessíveis e programação diversificada são características de seis espaços cinéfilos que exibem produções que não encontram espaço ou passam discretamente pelas salas dos centros comerciais. Algumas salas alternativas, no entanto, têm sofrido com a falta de recursos para adquirir novos equipamentos, fazer reformas, contratar pessoal e garantir a segurança de frequentadores e funcionários. Conheça as principais caraterísticas desses espaços culturais.
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Cinemateca Capitólio
Há menos de um ano em atividade, a Cinemateca Capitólio tem conseguido movimentar um bom público a partir de mostras especiais de diferentes cineastas e gêneros. Administrada pela Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria da Cultura de Porto Alegre, igualmente responsável pela P. F. Gastal, a sala também pretende exibir lançamentos de diferentes partes do mundo, mas esbarra em um problema: a falta de equipamento adequado. Todas as exibições são feitas a partir de um projetor de película 35mm, suporte abandonado pela indústria cinematográfica.
– Não queremos criar guetos, ao contrário, nosso objetivo é oferecer uma programação diversificada, mas de qualidade. Poderíamos exibir alguns filmes indicados ao último Oscar, por exemplo, mas não é possível, pois as distribuidoras não os oferecem em 35mm – conta Marcus Mello, responsável pele Coordenação.
O sistema de exibição que se consolidou no mercado nos últimos anos é o padrão digital DCP, que tem um custo próximo de R$ 400 mil. Para conseguir adquiri-lo, a Cinemateca Capitólio espera a aprovação de um projeto via Lei de Incentivo estadual (LIC-RS). Devido à grande dimensão da sala, soluções digitais mais simples, como a exibição de Blu-ray, não se adaptam bem à tela. – Se não conseguirmos comprar o DCP até o final do ano, podemos fechar a sala por falta de filmes a exibir – afirma Mello.
Endereço: Demétrio Ribeiro, 1.085
Preço da sessão: R$ 10 e R$ 5 (meia)
Capacidade: 164 lugares
Não abre segunda-feira
Sala P. F. Gastal
Apesar de contar com boas expectativas para o futuro, a Sala P. F. Gastal passa por uma má fase. Por falta de pessoal, o espaço dedicado a exibir lançamentos e mostras de diferentes cinematografias está fechado há quase três meses. No dia 20 de dezembro, foi iniciado um recesso que deveria se estender até o fim do Carnaval, mas a equipe não conseguiu retomar os trabalhos.
A sala é de responsabilidade da Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria da Cultura de Porto Alegre, que desde o ano passado precisou também tomar conta da recém aberta Cinemateca Capitólio. A Prefeitura, no entanto, não contratou funcionários para dar conta da nova demanda de trabalho. A partir da próxima terça-feira, a sala volta a funcionar, mas não se sabe se será com caráter temporário ou não. O retorno se dará por conta de um ciclo de cinema africano, seguido de uma mostra de filmes argentinos.
– Vamos fazer um intensivo para não perder essas mostras, programadas há muito tempo. Se, ao longo destas três semanas, não recebermos reforços, voltaremos a interromper as atividades – afirma Marcus Mello, responsável pela Coordenação. Localizada na Usina do Gasômetro, a P. F. Gastal também sofre com problemas de segurança em seu entorno, o que afugenta o público.
– É um lugar pouco habitado, e também sem muitas opções de transporte público. Eu mesmo já fui assaltado em frente à Usina – conta Mello. Apesar dos problemas, a sala deve se transformar no próximo ano. A previsão é de que a Usina seja fechada para reformas até o final de 2016, com reparos previstos para o cinema e a instalação de um equipamento de projeção digital DCP, o que garantirá mais opções de títulos e melhor qualidade da imagem.
Endereço: Usina do Gasômetro (Avenida João Goulart, 551)
Preço do ingresso: R$ 6 e R$ 3 (meia)
Capacidade: 118 lugares
Não abre segunda-feira
Casa de Cultura Mario Quintana
Três espaços oferecem uma diversificada programação de cinema na Casa de Cultura Mario Quintana. As salas Paulo Amorim, Eduardo Hirtz e Norberto Lubisco são ligadas à Secretaria Estadual da Cultura, mas administradas por uma associação de amigos. Como os recursos destinados ao espaço, que conta com apoio do Banrisul, não são suficientes para a sua manutenção, a programadora Mônica Kanitz precisa equilibrar qualidade artística e apelo popular ao escolher os títulos que ali serão exibidos.
– A sala é muito frequentada por estudantes, idosos e moradores do Centro. Há um público habitué, que vê quase todos os filmes – conta Mônica.
Uma rápida mirada nos cartazes desta semana basta para entender como as salas são ecléticas: estão exibindo desde títulos indicados ao Oscar com passagem mais fugaz pelas salas de shopping (como Carol e O Menino e o Mundo), filmes históricos (Lenin em 1918, de 1939) e recentes produções independentes de diferentes partes do mundo (Tangerine, Labirinto de Mentiras e Diplomacia).
Da mesma forma que a Cinemateca Capitólio, as salas da CCMQ sofrem com a falta de tecnologia adequada. Sem equipamento para exibição em DCP (atual padrão do mercado), as projeções são feitas a partir dos poucos Blu-rays disponibilizados por pequenas distribuidoras. Problemas com som e imagem também ocorrem eventualmente nas sessões, por falta de manutenção das salas.
Endereço: Andradas, 736
Preço da sessão: De terças a quinta R$ 12 e R$ 6 (meia).
De sexta a domingo e feriados R$ 14 e R$ 7 (meia)
Capacidade: 150 (Paulo Amorim), 80 (Eduardo Hirtz) e 50 lugares (Norberto Lubisco)
Não abre segunda-feira
Cine Santander
Com intuito de fazer circular produções que não têm vez no circuito comercial e levantar discussões de interesse público a partir da sétima arte, o Cine Santander abriu suas portas no prédio Santander Cultural em 2001. Há desde ciclos sobre espiritualidade até mostras de filmes de horror, passando por literatura, direitos humanos e outros temas.
– Temos um público tão eclético quanto nossa programação. O grande sucesso são as sessões comentadas, com grupos de 50 ou mais pessoas ficando além das sessões para debater os filmes – conta Luciana Tomasi, diretora-geral do espaço.
Entre as dificuldades relatadas por Luciana, está a crescente insegurança do Centro. Em exibições noturnas com debates, é preciso contratar seguranças particulares para garantir a tranquilidade dos frequentadores na saída. Segundo Luciana, a falta do sistema DCP para exibição não é um grande problema para a sala. Com tamanho reduzido, acomodando 85 pessoas, o espaço consegue ter boa qualidade de projeção a partir de arquivos digitais em alta definição. Além disso, como Luciana e o programador João Pedro Fleck estão sempre em contato com produtores independentes em mostras e festivais de diferentes partes do mundo, o acesso a cópias em múltiplos formatos é facilitado. Mesmo assim, o Santander estuda possibilidade de também aderir ao DCP.
Lançamentos também têm vez no Santander. No ano passado, o documentário gaúcho Filme Sobre um Bom Fim, de Boca Migotto, foi um dos recordistas de público, entrando três vezes em cartaz. Além disso, o espaço conta com ações de educação e formação de público, como o projeto Primeiro Filme, que leva escolas para o cinema.
Endereço: 7 de Setembro, 1.028
Preço da sessão: R$ 10 e R$ 5 (meia)
Capacidade: 85 lugares
Não abre segunda-feira
CineBancários
Em atividade desde 2008, o CineBancários já se consolidou no circuito cinéfilo da Capital. Em seus primeiros anos, a sala se dedicou a promover ciclos temáticos e debates, mas foi se especializando em lançamentos de filmes independentes brasileiros e latino-americanos.
Não sendo muito grande (tem capacidade para 82 pessoas), o cinema alcança uma boa qualidade de projeção a partir de um padrão de exibição chamado de "DCP aberto", solução intermediária entre o blu-ray e o DCP. Por focar em filmes independentes de países próximos, o cinema não enfrenta tanta dificuldade em encontrar os títulos neste padrão. Há em curso um projeto para comprar equipamento DCP, mas não há data prevista para a aquisição.
Subsidiada pelo SindBancários, a sala prescinde de bilheteria para sobreviver, mas conta com algumas sessões bem movimentadas.
– Os filmes que vão melhor têm um perfil político mais acentuado. O Mercado de Notícias, de Jorge Furtado, por exemplo, ficou um mês e meio em cartaz. O plano do SindBancários é dar continuidade no cinema, pois está satisfeito com a aproximação que este propicia com a comunidade – conta a curadora Bia Barcellos.
Endereço: General Câmara, 424
Preço da sessão: R$ 10 e R$ 5 (meia)
Capacidade: 82 lugares
Não abre segunda-feira
Sala Redenção
Ativa desde 1987, a Sala Redenção tem se renovado nos últimos anos. Depois de passar quase uma década voltada a projetos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), da qual faz parte, o espaço retomou a curadoria voltada também para o público de fora da instituição em 2009. Localizada no Campus Central da UFRGS, a Redenção se equipou para conseguir projetar filmes em blu-ray e outros formatos de alta definição digital há cerca de três anos. Em 2016, passou por uma completa reforma interna, com melhorias em poltronas e carpete. Entre os próximos planos, está a aquisição de um sistema para exibição de filmes em DCP, o que aumentaria a qualidade técnica e ampliaria a catálogo de filmes à disposição.
– A transição para o digital é o grande desafio de qualquer sala alternativa – opina Tânia Cardoso, responsável pela Redenção.
Todas as sessões da casa têm entrada franca. Além do apoio da UFRGS, a programação é negociada a partir de parcerias com outras instituições, como Sesc-RS, Instituto Goethe e Aliança Francesa. Ciclos especiais baseados em grandes cineastas e cinematografias de outros países são alguns dos destaques dos eixos norteadores da agenda, que também conta com lançamentos nacionais e ações voltadas para a formação de público.