Só se fala em crise. Em momentos como o de agora, lazer, entretenimento e arte são os primeiros a serem afetados. As empresas, que já não dispõem há tempos de verbas para incentivos diretos em projetos, só têm respostas negativas. Além disso, muitos eventos acabam não acontecendo, pois "divertir" não faz parte do essencial.
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Não faz muito, vocês devem recordar, falei sobre o financiamento coletivo, uma espécie de venda antecipada de produtos dos artistas como uma alternativa. Saibam que eu realizei um no início do ano, conseguindo parte do valor que necessitava para a gravação do meu primeiro DVD. O valor cobriu a terça parte. O restante, estou pagando e pagarei durante o ano do meu bolso para, afinal, "investir" em minha própria empresa e carreira. E isso, sem perspectiva de retorno, já que vender um DVD hoje é das tarefas mais difíceis. O registro é mais uma forma de "vender o peixe". Logo, alguém disponibiliza na internet o material. E isso não é uma queixa, mas a realidade do artista independente hoje em nosso país.
No início do ano, a notícia de uma mudança na Lei Rouanet acabou por me encher de esperança. A alteração do TCU proibia aprovação de projetos que tivessem capacidade de lucro. Assim, simples. Por exemplo, o
Rock in Rio, que no próprio projeto mostrava a projeção de lucro com a venda de ingressos. O valor cobria os custos e ainda dava lucro. Para que o financiamento público?
Por mais que o patrocínio seja da empresa, o imposto do qual o governo abre mão é de todos nós. Para quem não sabe como funciona: a empresa deve um valor X de imposto de renda; o governo, por meio do MinC, aprova um projeto e o libera para captar verba; a empresa procurada pelo produtor cultural resolve investir, então o valor que ia para o governo vai para o projeto (uma porcentagem do imposto devido).
No fim das contas, as empresas escolhem os projetos que querem. E elas querem o óbvio: divulgação da marca para grandes massas, o que necessariamente não está ligado a projetos de cunho cultural, que incentivem a diversidade de expressões do Brasil.
Nesta semana, a divulgação da aprovação do projeto da biografia da Claudia Leitte pelo Ministério deixou todos nós boquiabertos. Quase R$ 400 mil, que ela, com apenas um show, bancaria sozinha. Certamente, há uma fila de empresas querendo patrocinar, afinal, a Rouanet hoje é recurso de marketing para grandes marcas. Nossa cultura está longe de ter diretrizes de preservação, pluralidade e cuidado por parte de quem deveria apenas fazer isso. Se não houver uma reforma definitiva, estaremos cada vez mais à deriva da dominação da falta de educação. Desanimador!