Fitas cassete voltarão a ser produzidas no Brasil. O anúncio foi dado pelo estúdio FlapC4, em São Paulo. Ao que tudo indica, 2016 será o ano em que os aparelhos de Walkman poderão começar a sair do baú.
A novidade acompanha a onda retrô que recuperou o prestígio dos discos de vinil há alguns anos e também, mais recentemente lá fora, das fitas – nos Estados Unidos, por exemplo, as vendas de cassete por parte da National Audio Company aumentaram em 20% entre 2014 e 2015. Os responsáveis pelo retorno da produção no Brasil são os empresários Luis Lopes e Fernando Lauletta, proprietários do FlapC4, estúdio de gravação que investe em equipamentos vintage. Os sócios compraram uma máquina de gravação de fitas para oferecer o serviço às bandas e aos artistas que buscam o formato.
Segundo Lauletta, o estúdio está negociando com uma distribuidora a compra de fitas junto a fabricantes com a intenção de iniciar a produção de gravações até o final deste mês. Até então, bandas e artistas que queriam fitas cassete para distribuição de seus trabalhos – com tiragem e qualidade técnica – tinham de buscar o serviço na Argentina.
– Nosso interesse se deu após uma parceria com o selo de música eletrônica Beatwise Records, pelo qual produzimos uma tiragem pequena de fitas cassete. A partir daí, identificamos a tendência no mercado e resolvemos investir no negócio – contaLauletta.
Populares do fim dos anos 1970 até meados dos anos 1990, as fitas cassete foram desde então consideradas rudimentares e pouco práticas. Na última década, porém, ganharam status cult e voltaram a conquistar espaço. O principal público, segundoLauletta, vem do mercado independente: bandas de punk e metal, produtores de música eletrônica e grupos de rap. Mesmo entre o público que tem acesso às músicas por meio da internet, há os que não dispensam o contato com o encarte e a embalagem do formato físico, como no vinil.
– É um material bacana para o artista e para o fã. O público (do meio independente) tem bastante “fetiche” pelo material físico, e o cassete é bem mais barato que o vinil – avalia Lauletta.
A FlapC4 usará uma máquina da marca Kaba Research & Development, que grava 100 fitas ao mesmo tempo. Fernando garante que a qualidade das fitas produzidas não decepcionará. Segundo o produtor, os modelos antigos eram produzidos com materiais baratos que prejudicavam o som e eram regravados de uma matriz que não levava em conta suas propriedades. Já as gravações da fábrica serão mixadas e gravadas especialmente para o formato.
– Pretendemos reunir uma série de músicos para um teste cego no qual eles poderão julgar a qualidade das fitas. Queremos desmitificar a ideia de que fitas cassete têm má qualidade sonora – avisa Fernando.
Rebobinando:
– As fitas cassete surgiram em 1963. Criadas pela Phillips, logo se tornaram uma opção portátil aos discos de vinil. Apesar da praticidade e de permitir a gravação de músicas transmitidas pelo rádio, demoraram a engrenar comercialmente.
–No final dos anos 1970, o advento dos aparelhos portáteis, do tipo Walkman, impulsionou a popularidade das fitas. Em meados dos anos 1980, o aparelho era um artigo obrigatório entre jovens.
– Até meados dos anos 1990, a fita cassete foi o principal meio de difusão musical entre os jovens. Era comum esperar horas pelas músicas prediletas tocarem no rádio para gravar uma seleção musical customizada: as mix tapes.
–Assim como o MP3 e os CD-R anos depois, nos anos 1980 as fitas foram consideradas uma ameaça à indústria musical pelo seu potencial de gravação simplificada – e pirataria.
–Nos anos 1990, as fitas cassete continuaram sendo uma das principais formas de as bandas independentes divulgarem seus trabalhos. Começava a era das fitas-demo.
–Entre a segunda metade dos anos 1990 e o início dos 2000, as fitas perderam popularidade. Um dos motivos foi a difusão dos CDs graváveis, seguida pela ampliação do acesso à internet e a possibilidade de baixar músicas em arquivos digitais, como MP3.