Sem favoritos destacados e com componentes políticos envolvidos – especialmente a partir da ausência de negros nas principais categorias –, o Oscar 2016 tinha tudo para ter grandes momentos, com vencedores surpreendentes e manifestações contundentes. Teve. Mas as surpresas foram pontuais, e os discursos engajados, menos barulhentos do que se esperava.
A vitória de Spotlight acabou sendo um encerramento digno para a cerimônia apresentada por um comportado Chris Rock: consagrou um filme que não deixa nada a desejar na comparação com seus concorrentes e que toca em um assunto importante (a pedofilia na Igreja Católica, denunciada pelo bom jornalismo), tão urgente quanto as questões de gênero debatidas por A Garota Dinamarquesa, a relação entre homem e natureza abordada por O Regresso e o que está por trás da crise econômica, tema de A Grande Aposta.
Leonardo DiCaprio finalmente ganhou como melhor ator (por O Regresso) em um ano no qual a Academia de Hollywood consagrou duas de suas maiores revelações (Brie Larson, melhor atriz por O Quarto de Jack, e Alicia Vikander, melhor coadjuvante por A Garota Dinamarquesa) e ainda fez jus a uma das grandes interpretações dos últimos tempos, a de um enigmático Mark Rylance, melhor ator coadjuvante por Ponte dos Espiões.
Alicia Vikander bem poderia ter concorrido a melhor atriz, já que tem o principal papel feminino de A Garota Dinamarquesa. Mas, se houve injustiça nas categorias de interpretação, foram os esquecimentos dos atores-mirins Jacob Tremblay, de O Quarto de Jack, e Abraham Attah, de Beasts of No Nation, que tinham condições inclusive de vencer, mas sequer foram indicados.
Em categorias como melhor documentário, vencida por Amy, e melhor animação, por Divertida Mente, a Academia fez apostas seguras. Premiou dois bons filmes – os mais pop, na comparação com seus concorrentes –, porém, deixando de lado propostas mais inventivas, como o desenho brasileiro O Menino e o Mundo, ou politicamente mais significativas, caso de todos os outros indicados a melhor longa documental, especialmente o impactante Winter on Fire.
A Academia esteve sempre na defensiva. Seu presidente discursou anunciando mudanças a fim de tornar a instituição mais inclusiva e democrática. Chris Rock foi às ruas dar voz apenas a pessoas negras. Houve um clipe com negros que participaram dos longas finalistas. As piadas, tradicional marca da cerimônia de entrega das estatuetas, foram contidas. E tudo terminou ao som de Fight the Power, hino do rap de contestação do Public Enemy.
Sequer houve um grande perdedor: praticamente todos os principais concorrentes saíram da cerimônia com ao menos um troféu – dos oito indicados a melhor filme, só Brooklin saiu de mãos abanando. Tudo na medida para evitar polêmicas – e exaltar, por igual, as principais apostas dos grandes estúdios na temporada que passou.
Confira todos os premiados do Oscar 2016:
Melhor filme: Spotlight – Segredos Revelados
Melhor direção: Alejandro Iñárritu (O Regresso)
Melhor ator: Leonardo DiCaprio (O Regresso)
Melhor atriz: Brie Larson (O Quarto de Jack)
Melhor ator coadjuvante: Mark Rylance (Ponte dos Espiões)
Melhor atriz coadjuvante: Alicia Vikander (A Garota Dinamarquesa)
Melhor roteiro original: Spotlight – Segredos Revelados
Melhor roteiro adaptado: A Grande Aposta
Melhor design de produção: Mad Max: Estrada da Fúria
Melhor montagem: Mad Max: Estrada da Fúria
Melhor fotografia: O Regresso
Melhor figurino: Mad Max: Estrada da Fúria
Melhor maquiagem e cabelo: Mad Max: Estrada da Fúria
Melhores efeitos visuais: Ex-Machina: Instinto Artificial
Melhor som/edição de som: Mad Max: Estrada da Fúria
Melhor mixagem de som/efeitos sonoros: Mad Max: Estrada da Fúria
Melhor trilha sonora: Os Oito Odiados
Melhor canção: Writing's on the Wall (007 Contra Spectre)
Melhor animação: Divertida Mente
Melhor documentário: Amy
Melhor filme estrangeiro: O Filho de Saul (Hungria)
Melhor curta-metragem: Stutterer
Melhor curta documental: A Girl in the River: The Price of Forgiveness
Melhor curta animado: A História de um Urso