Brooklin é um filme à moda antiga. Azarão na briga pelo Oscar de melhor produção deste ano, o longa que entra em cartaz nesta quinta-feira (11/2) na Capital é um melodrama romântico sobre uma jovem heroína com dois corações: um em sua Irlanda natal, outro na América, para onde imigrou. Os sentimentos à flor da pele, no entanto, são apresentados em Brooklin com sensibilidade e inteligência, evitando o tom meloso indulgente.
Uma das razões para o filme não resvalar no sentimentalismo certamente está na qualidade das raízes literárias da história, que levam as assinaturas de dois respeitados escritores contemporâneos de língua inglesa: o irlandês Colm Tóibín é o autor do romance original (publicado no Brasil pela Companhia das Letras), e o inglês Nick Hornby assina o roteiro adaptado para o cinema - o longa está indicado ao Oscar da categoria. Brooklin - com "i" no Brasil, quem sabe por causa do bairro nobre paulistano com esse nome - tem direção de John Crowley, realizador irlandês de títulos como o drama Rapaz A (2007) e o policial Circuito Fechado (2013).
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No filme, a trajetória da jovem Eilis Lacey (Saoirse Ronan, na disputa do Oscar pelo papel) tem início na pequena Enniscorthy, em 1952. Morando com a mãe viúva e a irmã Rose (Fiona Glascott), a garota não vê muitas perspectivas de futuro na Irlanda. Uma oferta de trabalho e moradia nos Estados Unidos, porém, acena com um novo horizonte: graças ao convite do padre Flood (Jim Broadbent), Eilis cruza o oceano e vai tentar a sorte em Nova York, mais especificamente no Brooklyn - destino de boa parte dos imigrantes irlandeses no país.
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Ainda muito ligada à família, a solitária protagonista sente saudades de casa e sofre nos primeiros tempos com a rotina de trabalho diurno em uma loja de departamentos e o estudo noturno na faculdade de contabilidade. Em um baile, Eilis conhece Tony (Emory Cohen), rapaz de origem italiana que aos poucos entra em sua vida. Mas, quando começa a se sentir mais livre e segura, ela é obrigada a voltar por algumas semanas para Enniscorthy. O breve retorno ao lar vai colocar a personagem diante de um dilema decisivo para sua vida.
O elenco talentoso inclui nomes como o ator irlandês Domhnall Gleeson, em cartaz atualmente também com o filme O Regresso (2015), e a atriz inglesa Julie Walters - a Molly Weasley da franquia Harry Potter. Merecem destaque ainda em Brooklin a ambientação de época e as sutis transformações da fotografia, de tons mais escuros para claros, que auxiliam na caracterização dos três atos da narrativa.
Brooklin ecoa os grandes melodramas produzidos em Hollywood entre as décadas de 1940 e 1960 - especialmente os filmes dirigidos por Douglas Sirk. Essa nostalgia, contudo, é modernizada graças a uma permanente sensação de melancolia e a uma providencial contenção dramática, que escudam a trama dos excessos - tanto trágicos quanto eufóricos. Fundamentais para o sucesso desse registro agridoce são a atuação e a própria figura de Saoirse Ronan: nova-iorquina filha de pais irlandeses, a atriz de 21 anos, que brilhou ainda menina em Desejo e Reparação (2007), empresta a Eilis um ar ao mesmo tempo vivaz e triste, consonante com a trajetória de amadurecimento de seu personagem dividido entre dois mundos.
Brooklin
De John Crowley
Drama, Canadá/Reino Unido/Irlanda, 2015, 112min.
Estreia nesta quinta-feira no circuito de cinemas.
Cotação: 3 de 5 estrelas
Indicações ao Oscar:
-Melhor filme;
-Atriz (Saoirse Ronan); e
-Roteiro adaptado
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