Nunca entendi a suposta superioridade com que alguns ateus falam quando o assunto é religião. Olham para a gente religiosa como se lhes faltasse algum parafuso. Cuido para não reproduzir às avessas tal comportamento. Tampouco para resvalar em dogmatismos reducionistas. Lendo a obra completa de Adélia Prado, impregnada por um catolicismo visionário, tenho certeza: se uma religião, qualquer uma, é capaz de produzir um(a) poeta do quilate de Adélia, está devidamente justificada.
Milagres humanos sempre me interessaram mais que milagres canônicos. Alguém cantando bem é o meu milagre preferido. Nossa Canção, gravação antiga de Vanessa da Mata, rodando agora na trilha de A Regra do Jogo, é linda. Imortalizada na voz de Roberto Carlos, a canção é, na verdade, de Luiz Ayrão. Revelada por Maria Bethânia com A Força que Nunca Seca, a compositora já mostrava ali ecos djavânicos e proféticos ("A água na estrada morta / A água que é tão pouca / A senhora com a lata na cabeça / Equilibrando a lata vesga").
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No dia em que Júpiter Maçã morreu, por coincidência ou milagre, estava ouvindo o disco do Silva, que se chama... Júpiter. O artista que se foi e o CD que chega agora merecem apurada audição. Sim: o novo sempre vem.
2016, a acreditar nos especialistas, será ainda mais recessivo e problemático do que o ano recém-encerrado. Por isso mesmo, desejo a todos "a força que nunca seca". Em 2016, 17, 18, 19... do jeito e quando for, no mundo que nos couber. Precisamos, crentes e ateus brasileiros, mais que nunca, acreditar em forças transformadoras - porque não podemos abrir mão nem do país desejado nem da felicidade a que temos direito. Vira-mundo virado, prova dos nove, milagre: festa, trabalho e pão.
Milton Nascimento, a voz mais bonita do Brasil, cantando em ritmo de ciranda a vinheta de final de ano da Globo, é arauto precioso a anunciar o tempo novo que todos almejamos. Como ele já cantou: "Porque se chamavam homens também se chamavam sonhos". Eu acredito. Acredite.