Paris deveria estar em chamas no dia 25 de agosto de 1944: os aliados estavam às portas e Hitler deu ordens para que os alemães deixassem a Cidade Luz em escombros. O spoiler, todos sabem, é que a capital francesa felizmente não foi destruída – o governador nazista desobedeceu o comando do Führer e rendeu- se com os 17 mil soldados que resistiam em Paris. No filme Diplomacia (2014), uma das estreias na Capital, o diretor alemão Volker Schlöndorff narra como uma discussão tensa entre dois homens madrugada adentro na véspera evitou que um dos crimes mais terríveis da história fosse perpetrado.
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Baseado na peça homônima do escritor francês Cyril Gély, Diplomacia coloca frente a frente dois personagens reais: o general alemão Dietrich von Choltitz (1894 – 1966) e o cônsul sueco Raoul Nordling (1881 – 1962), ambos lotados em Paris durante a II Guerra. No cinema, os protagonistas são vividos pela mesma dupla que interpretou os papéis no teatro em Paris: os atores franceses Niels Arestrup (Choltitz) e André Dussollier (Nordling).
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O drama dirigido por Schlöndorff é ambientado no quarto do interventor nazista no tradicional hotel Le Meurice, no coração da capital da França, horas antes da odiosa missão de explodir os principais símbolos parisienses e deixar apenas o caos para as tropas americanas e francesas. Ciente do plano, o diplomata Nordling, que já negociara antes com Choltitz a libertação de combatentes franceses presos, visita o oficial alemão em seus aposentos a fim de convencê- -lo a não cumprir a determinação ignóbil. Durante toda a noite, o cônsul e o general confrontam-se em torno do tema, em um duelo inflamado que coloca em oposição integridade moral e obediência hierárquica, responsabilidade histórica e interesse pessoal, razão de Estado e imperativo categórico.
Cercado por lacunas quanto ao que realmente aconteceu, o debate entre Nordling e Choltitz foi relatado em 1965 no livro Paris Está em Chamas?, levado às telas no ano seguinte em uma superprodução dirigida pelo cineasta francês René Clément. Diplomacia é um tour de force de atuação, em que brilham os talentos de Niels Arestrup e André Dussollier, conduzidos com segurança por Volker Schlöndorff – um dos principais nomes do chamado "cinema novo alemão", ao lado de realizadores como Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog e Wim Wenders. O cineasta de 76 anos também foi diretor de obras-primas como O Jovem Törless (1966) e O Tambor (1979) – vencedor do Oscar de filme estrangeiro e da Palma de Ouro no Festival de Cannes.
DIPLOMACIA
De Volker Schlöndorff Drama, França/ Alemanha, 2015, 84min. Em cartaz no Guion Center (14h20min, 18h10min e 19h45min). Cotação: 4 de 5.