Ele é a voz de uma das maiores bandas da história do Brasil. Aos 42 anos, Marcelo Falcão tem como marca a entrega em seus shows e composições. Com quase 23 anos de banda, O Rappa volta ao Planeta Atlântida para apresentar a Nunca Tem Fim Tour. No setlist, sucessos e novidades dos cariocas. Falcão deu um tempo nas gravações para trocar uma ideia com Rafinha e Rodrigo Adams. Numa resenha descontraída, o vocalista falou sobre música, futebol e foi bem polêmico quando o assunto foi para a política.
Rafinha - Tô sabendo que a banda tá em processo de lançamento de um DVD.
Falcão - O Rappa acabou de gravar em Recife um DVD chamado O Rappa, Segundo Francisco Brennand. Nós fomos dentro da casa do cara gravar um DVD com inéditas e regravações pensadas num lado B dO Rappa. Aquelas que não são sucesso, transformamos e fizemos versões para elas, com mais algumas novas e convidados de Recife e Ceará. Entre eles, Rapadura e João do Pífano. E a gente já tinha gravado um DVD em São Paulo, no Rio de Janeiro... De dois anos pra cá, Recife nos acolheu. É o terceiro Carnaval que a gente vai. Nós fomos muito agraciados pelo Nordeste e queríamos retribuir. Agora falta a gente gravar um aí no Sul. Kkkkkk!
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Rafinha - Aqui a banda passou por diversas vezes. O que representa o Planeta Atlântida pra moçada dO Rappa?
Falcão - A gente é honrado de voltar ao Planeta Atlântida e fica eternamente agradecido. Eu sempre falo que fomos uma banda de entrar no ônibus e ir para as cidades tocar. O festival virou uma espécie de presente para a gente. O Rio Grande do Sul tem um lance com a história do pensar, com uma cultura mais apurada e tal. Infelizmente, nosso país é marcado por essa história de cultura e de saúde, mas a galera do Sul sempre foi uma das primeiras a dar o devido valor para O Rappa. Depois, o pessoal do Brasil, graças a Deus, abraçou. Ser convidado para tocar no Planeta é uma honra. Poder voltar com essa turnê que foi tão bem sucedida, chamada Nunca Tem Fim Tour, vai ser para nós, como músicos, a consagração.
Adams - Eu lembro de uma vez que, além de fazer o show, tu acompanhaste o show de outras bandas...
Falcão - Eu ia muito no Opinião, cara. No sapatinho, já vi Cachorro Grande, Da Guedes... Tudo no sapatinho. Meto um tocão, fico ali tomando um chopinho... Tem a Ultramen também, que eu respeito e amo. Tenho muito respeito pela galera do Sul.
Adams - Uma vez a Comunidade Nin-Jitsu tava metendo um show no Planeta Atlântida e tu estavas numa catarse junto com a galera, acompanhando no backstage...
Falcão - Hahahahahahaha! Isso aí eu acho que era da bebedeira. Kkkkkkk! Vamos falar a real: é a bebedeira. O problema desses festivais é isso. O cara vai pra tocar e tá arriscado a entrar no camarim dos outros, e, quando vê, o show já tá rolando. Fico muito feliz de esbarrar com essa galera. Comunidade é f***.
Rafinha - O Rappa sempre teve esse compromisso de passar uma mensagem social para a galera. Tu achas que os artistas de hoje têm esse compromisso com a sociedade? Vivemos um momento tão crítico no nosso país, que muitas vezes acabamos nos apegando a músicas que não nos trazem nada.
Falcão - Cara, eu acho que nunca foi de propósito. Foi da situação e das condições de vida que a gente sempre teve. Eu passei hoje no lugar em que a minha mãe e minhas tias moram, no Engenho Novo. Não mudou nada lá, cara. Desde que a banda O Rappa começou, o lugar de onde eu vim não mudou nada. Tá pior. O lugar tá largado. Então, eu vejo o país dessa forma. A gente sempre fala do terno e da gravata... A gente não aguenta mais xingar de ódio esses caras. Saquearam o Brasil. A empresa que mais valorizava patrocinar música, cultura era a Petrobras. Os caras quebraram a Petrobras. Eu tenho a maior vergonha. Quem está aí não me representa. Não representa O Rappa. Nunca representou. As pessoas se conformam com muito pouco. Essa história de bolsa isso, bolsa aquilo... Se as pessoas soubessem o verdadeiro valor que elas têm no voto e o que elas realmente precisavam... Essa história de vir pra rua... É só ir pra rua. Não precisa depredar patrimônio público e privado. É ir pra rua e mostrar indignação. Agora, do jeito que está, brother, se a galera não se movimentar como se faz na Argentina... Há pouco tempo na Ucrânia, o povo pegou os engravatados e jogou tudo no lixo. Aí vem o Carnaval... Olha só que loucura! A gente está nesse terror do universo com essa presidenta vergonhosa, com essa cúpula de amigos... Só a turminha do esquema, sabe como é? Todo mundo no esquema para se reeleger. Caiu o barco da coroa e ela está passando uma vergonha mundial. O Brasil está rebaixado. O que a gente fala mais? A gente fala de música, cara. Há 20 anos O Rappa fala de coisas que são importantes para todo mundo. Não é importante só para a gente. Algumas pessoas se identificam, outras pessoas não. Quando você falou de engajamento na história da música, eu penso de uma maneira assim: "Quem muito já foi engajado, as pessoas babam os ovos dos caras". Eles estão com 60, 70 anos. Não tenho nada contra eles, nem contra ninguém. Mas eu fico observando: "Quem muito criticou, hoje não se move". O Rappa continua. Me move ver as pessoas. Eu sou um cara que anda por todos os lugares. Dia desses fui tocar com o Cidade Negra e Ponto de Equilíbrio. Eu não consegui ver o show do palco e fui para o meio da galera. Tirei mais de mil fotos, fui agarrado, quase arrancaram o meu dread, mas p***.
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Rafinha - O Armandinho não tava junto contigo nessa?
Falcão - Tava junto, cara. Um queridão, brother!
Rafinha - Esse é nosso irmão.
Falcão - De um carinho. Quando eu cheguei, a primeira pessoa que me abraçou foi ele. Chamei ele pra sentar comigo e trocar uma ideia.
Adams - Como tu enxergas, em paralelo a tudo o que tá rolando, crescimento de caras como o Bolsonaro?
Falcão - Eu levanto a bandeira da música. Não vou mentir pra você, cara. Cada vez que eu fico um pouco longe da TV a minha vida fica mais feliz. As coisas que eu mais gosto de ver são shows e jornalismo. Do fundo do meu coração, eu não tenho nenhuma vontade de falar dessas pessoas. De verdade, de amigo mesmo. É uma moral que eu pretendo nunca dar. Nunca fizemos shows para políticos. Quando descobrimos que havia alguma participação política na história, cortamos e não tocamos. Hoje, não dou moral nenhuma. Nem nome de presidente ou presidenta eu dou. É uma vergonha. Lixão mesmo. As piores pessoas que eu tive já vi em toda a minha vida. Estou com 42 anos e as piores pessoas que eu vi no mundo são essas que dizem cuidar do Brasil.
Adams - Voltando a falar de música. Vamos de coisa boa. Ou não.
Falcão - Hahahahahaha! Ou não!
Adams - Saiu um levantamento que mostra que das 100 músicas mais tocadas em 2015, nenhuma é rock. O Rappa bebe muito do rock 'n' roll. Como tu vê isso, irmão.
Falcão - Eu vejo isso como pessoas que fazem música por música. Eu vou a festas da família, vão tocar Xuxa e eu vou morrer de rir. Vai tocar o Créu e nós vamos rir, dançar o Créu... Beleza, vamos! Existem músicas para divertir e, às vezes, servem para dar uma mascarada no momento atual. Parece que tudo é isso. Tudo é engraçado, bonito... Eu gosto de coisas bonitas. Eu gosto de coisas engraçadas. Esse é O Rappa que eu sempre sonhei. A galera é divertida. Ninguém quer ser mais do que ninguém. Todo mundo escreve junto. Quando escreve e dá uma canetada melhor do que o outro, a pessoa tira o chapéu. Nós temos um respeito e mantemos a parada do bom humor. É com bom humor que eu falo que tenho nojo da política do país. Não vou me amargurar não. Uma vez, conversando com o Ricardo Boechat, ele me disse: "Se a gente se amargurar, eles venceram". No meu pensamento, cara, se não tem 100 músicas do rock n roll dentro da lista, eu sinto muito. Eu gostaria muito que as coisas fossem mais misturadas e menos modinha. Nesses 22 anos de O Rappa, eu já vi várias modinhas. E elas passaram, velho. Eu respeito. Às vezes é o cara humildão do interior, sonhava em ser famoso... Eu nunca sonhei em ser famoso, guerreiro. Juro por Deus. Se a música me transformou num cara reconhecido, isso me deixa satisfeito. Quando tem um programa de TV interessante, ok. No passado, fomos em todos. Para a gente mesmo poder rir da gente.
Rafinha - Isso não deixa de ser uma maneira de levar a banda para a grande massa...
Falcão - Essa foi a intenção.
Rafinha - Eu sei que tu tens um projeto em que tu regravaste um som do Tim Maia. Uma versão para Me Dê Motivo, que ficou uma regueira alucinante. Fala um pouco sobre esse projeto.
Falcão - É o Jet Dub System. É o trampo que eu tinha um compromisso com os meus amigos (dO Rappa) em que a gente tinha que fazer esse disco Nunca Tem Fim. Terminado o disco, eu mergulhei numa história que eu já tinha começado a fazer. Chamei alguns amigos no estúdio com uma breja, churrasquinho rolando e eu fazendo o meu tipo de interpretação. Sou um colecionador de compactos e vinis de reggae. Eu tenho muito material de dub, de reggae, de soul. Influenciado por essas histórias, eu precisava fazer alguma coisa que as pessoas me cobravam muito. "Pô, cara. Canta um Tim Maia. Toca um Jorge Bem. Um Djavan no violão." Eu amo isso, pois é a minha escola de violão. Nessa vibe aí, comecei a brincar com essa história de Jet Dub, que eram bases que eu criei, e fazer um reggae. Um lance sem bateria, com mais DJ. Algo pequenininho, que seja viável para fazer festas. Depois do Carnaval eu começo a fazer um disco solo do Falcon, que eu já queria fazer há um tempão, mas não tive tempo.
Adams - E o Mengão?
Falcão - Vou avisar logo! Eu sei que vocês são marrentos pra caramba com o Inter e com o Grêmio. Eu tô ligado que vocês são brabos, mas nós estamos vindo. Tão arrumando a casa do Mengão. Muriçoca tá lá. O barraco tava caidinho, cheio de dívida. Deixa o Muricy fazer o que ele quer. Um dia podemos reclamar, mas deixa o cara fazer. Tamo acreditando!
Rafinha - Valeu a brothagem.
Falcão - Vou com força máxima pro Planeta Atlântida. Pesadão!
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