Grande favorito ao Oscar de melhor filme estrangeiro, o húngaro O Filho de Saul tem feito mais sucesso fora de seu país de origem. O motivo é o tema, polêmico na Hungria: o trabalho realizado por prisioneiros judeus para os nazistas na II Guerra Mundial. A professora e crítica gaúcha Ivonete Pinto, em viagem a Budapeste, acompanhou uma entrevista coletiva do longa e apresenta o relato a seguir.
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O filme O Filho de Saul, que estreou em setembro de 2015 na Hungria, voltou a cartaz em Budapeste em função da indicação ao Oscar e da vitória no Globo de Ouro – a primeira conquistada por uma produção húngara na premiação. Para falar sobre o assunto, o diretor László Nemes, parte da equipe e distribuidores concederam uma entrevista coletiva na semana passada.
Nemes, que tem 38 anos, defendeu a abordagem do longa-metragem, que se concentra na ação de um pai tentando dar um enterro judaico ao filho em plena II Guerra Mundial. Segundo o cineasta, as histórias sobre o Holocausto falam de maneira mais ampla e esquecem os indivíduos. Sua câmera nunca abandona Saul.
Realizada no Urania National Cinema Palace, inaugurado em 1890, a coletiva foi pautada pela trajetória internacional do longa, que conquistou o prêmio especial do júri e o prêmio da crítica no Festival de Cannes, na França, país onde fez mais de 200 mil espectadores. Nemes também relatou que O Filho de Saul já rendeu o livro Sortir du Noire, do historiador francês Georges Didi-Huberman, na forma de uma longa carta escrita ao cineasta.
Na Hungria, no entanto, há uma controvérsia em torno do filme. Ele não teria sido bem aceito pela crítica local, nem pelo público, conforme confidenciaram alguns jornalistas antes da coletiva. Levou 100 mil espectadores aos cinemas no país, número considerado baixo, tendo em vista que a expectativa era de 1 milhão de ingressos vendidos após o sucesso internacional. Vale lembrar que a Hungria tem cerca de 10 milhões de habitantes.
A explicação estaria no fato de que o tema é controverso por aqui. A trama mostra um grupo de prisioneiros judeus, o Sonderkommando, que em 1944 foi forçado a trabalhar para os nazistas no campo de concentração de Auschwitz.
De fato, houve um esquadrão de judeus húngaros que, deportados, faziam esse trabalho de algozes dos próprios judeus. O assunto nunca foi tranquilo na Hungria – os judeus do país sempre tiveram vergonha desse esquadrão.
Enquanto se dedica à campanha de divulgação do filme em vistas ao Oscar, Nemes já trabalha no roteiro de seu próximo filme, que será rodado em Budapeste. Perguntei se ele tem planos de ir ao Brasil para o lançamento de O Filho de Saul, mas o cineasta afirmou que, infelizmente, a viagem não está na sua agenda.
* Crítica e professora de cinema da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
OS CINCO INDICADOS AO OSCAR DE MELHOR FILME ESTRANGEIRO
CINCO GRAÇAS (TURQUIA)
Filme que percorreu diversos festivais com seu título internacional, Mustang. Trata-se do primeiro longa de Deniz Gamze Ergüven. Narra a jornada de cinco irmãs obrigadas a exercer tarefas domésticas a fim de serem preparadas para um casamento arranjado. Estreia nesta quinta-feira no Brasil.
GUERRA (DINAMARCA)
Roteirista de A Caça (2012),Tobias Lindholm assina este filme sobre a captura de um grupo de soldados estrangeiros no Afeganistão. O protagonista é o seu comandante,que, para salvar seus homens, toma uma decisão que o transformará em acusado de crime de guerra. Sem data de estreia prevista no Brasil.
O ABRAÇO DA SERPENTE (COLÔMBIA)
Filme de Ciro Guerra premiado, entre outros festivais, em Cannes, onde recebeu o troféu da CICAE (Confederação Internacional dos Cinemas de Arte, na sigla em inglês). A história é a da relação entre um índio da Amazônia e dois cientistas em pesquisas na floresta. Estreia no dia 1º de fevereiro no Brasil.
O FILHO DE SAUL (HUNGRIA)
O favorito ao prêmio narra a jornada de um prisioneiro judeu durante um dia no campo de concentração de Auschwitz, em 1944. Forçado a realizar trabalhos como a limpeza das câmaras de gás, ele reconhece, entre os mortos, o corpo do próprio filho. Estreia no dia 4 de fevereiro no Brasil.
THEEB (JORDÂNIA)
Raro representante da Jordânia na disputa, este vencedor da mostra Horizontes do Festival de Veneza narra a história do jovem Theeb junto a uma tribo beduína que vaga pelo deserto durante a I Guerra Mundial. Sem data de estreia prevista no Brasil.