Os bastidores de Brasília estão em O Fim e os Meios, mais recente longa de Murilo Salles. O filme estreia nesta quinta-feira na programação Cinemateca Paulo Amorim, em Porto Alegre, junto a dois documentários que o cineasta carioca de 65 anos finalizou no ano passado: Passarinho Lá de Nova Iorque, sobre o jovem cineasta maranhense Cícero Filho, e Aprendi a Jogar com Você, sobre dois músicos da periferia da capital federal. Os três títulos serão exibidos em uma sessão diária, às 15h30min, às 17h30min e às 19h30min, na Sala Norberto Lubisco.
A Brasília retratada em O Fim e os Meios é cinzenta e opressiva. Atrai um casal formado por um publicitário (Pedro Brício) e uma jornalista (Cintia Rosa) com a promessa de muito dinheiro, no caso dele, e de realização profissional, no dela. Os dois se mudam para a cidade quando o homem recebe uma proposta de trabalho na campanha de um senador que quer se reeleger (Emiliano Queiroz). A mulher vai junto, aproveitando a oportunidade para impulsionar a carreira lá onde se concentram as decisões políticas capazes de mudar o país.
Filme esteve em Gramado 2015. Leia mais sobre o festival
Títulos políticos como o longa de Murilo Salles marcaram evento
A relação entre os dois tem uma particularidade: eles estão juntos mais pela filha que fizeram, fruto de uma gravidez indesejada, do que por amor. Essa frieza se transfere para o visual do filme por meio da paleta azul utilizada pela fotógrafa Janice DÁvila. Aos poucos, conforme eles testemunham atos antiéticos, aproximando-se de um universo de corrupção e ambição desmedida, tudo vai ficando mais nebuloso.
Há outro personagem em destaque: um assessor político vivido por Marco Ricca. Ele é uma espécie de intermediário entre os protagonistas e esse mundo obscuro no qual eles adentram - e pelo qual são engolidos, "virando suco", para usar a expressão do clássico do cinema nacional O Homem que Virou Suco (1980), de João Batista de Andrade.
Diretor de sólida carreira (são dele Nunca Fomos Tão Felizes e Como Nascem os Anjos, entre outros), Murilo Salles explora com alguma habilidade o caráter flutuante desse assessor, fazendo-o estabelecer relações ambíguas com os demais personagens em cena.
Há desejo de poder, mas também desejo carnal nessas "ligações perigosas", percebe o espectador ao se enredar na trama. A confusão de sentimentos acaba se revelando uma boa metáfora da perdição desses seres em princípio estranhos ao universo sórdido do jogo político. Lá pelas tantas, eles nem parecem se dar conta do que estão fazendo. Ainda que não venha com tanta contundência, trata-se de uma reflexão bastante pertinente.
O Fim e os Meios
De Murilo Salles
Drama, Brasil, 2015, 105min, 14 anos.
Estreia nesta quinta-feira, na sessão das 19h30min da Sala Norberto Lubisco da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.
No mesmo espaço, serão exibidos os documentários Passarinhos Lá de Nova Iorque (às 15h30min) e Aprendi a Jogar com Você (às 17h30min).
Cotação: bom.