As séries têm lá as suas questões existenciais, especialmente quando passam da segunda ou terceira temporada e seus personagens precisam encontrar novas razões para existir. Homeland começou com uma premissa de alta voltagem: um prisioneiro de guerra americano libertado no Iraque era mesmo um herói ou algo mais estranho e perigoso? Dali começamos a seguir a história, com as nossas unhas sofrendo a cada episódio e com cada vez em que Brody, o herói que não era, aprontava alguma. Carrie, a estranha, agente da CIA e bipolar, se dividia ente a mocinha que perseguia o cara malvado e a tolinha que se apaixonava por ele.
Se a memória e o Google não me falham, Homeland foi criada pelo mesmo povo que fez de 24 Horas um sucesso dos tempos das séries em caixas de DVDs. Ali, o truque era apresentar o inimigo como muito mau, muito disposto a tudo e muito islâmico, na guerra de civilizações que se iniciou para os americanos após o 11 de setembro. 24 Horas era politicamente incorreta, narrativamente eficaz, se a gente esquecesse todos os absurdos que o agente Jack Bauer cometia ao longo de uma hora de tempo supostamente real.
Homeland teve que se reinventar quando Brody precisou ser eliminado da trama. E se reinventou em torno de Carrie, cada vez mais estranha, e da CIA e suas missões pelo mundo afora. Nesta temporada, estamos em Berlim, o que nos dá ótimos cenários e muitos inimigos úteis. A Guerra Fria deixou os russos por ali e desocupados. A guerra pós-11 de setembro encontra ali montes de jihadistas doidos por explodir um ocidental, num ambiente cheio deles. Essa mudança torna Homeland cada vez mais preto & branco, cada vez mais acelerada, cada vez mais do jeito que 24 Horas era, com o inimigo prestes a assassinar massas de inocentes, e ela, tadinha da Carrie, tendo que resolver tudo praticamente sozinha.
Homeland anda com muito jeito de 24 Horas, e se o Jack Bauer aparecer em cena daqui a pouco, eu, ao menos, não vou ficar nem um teco surpreso. Se alguém o vir em algum canto, me avise. Ademã, e vamos em frente.
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