Luciano Leães passou os últimos 20 anos como coadjuvante de luxo em dezenas de trabalhos em estúdio e palco, dentro e fora do Brasil. Agora, ele assume de vez o protagonismo em The Power of Love, disco de estreia com sua The Big Chiefs que será apresentado nesta quinta, às 20h, no Centro Histórico-Cultural Santa Casa.
Esse poder do amor é também o poder de aglutinação, que Leães exerce desde a infância. Assim que conseguiu alcançar o piano da casa da avó, apaixonou-se pelo instrumento e montou uma banda com os primos.
- Tocávamos muito Chuck Berry, e comecei a reparar no pianista dele,
Johnnie Johnson - explica. - Em uma viagem a Buenos Aires, comprei um disco do cara, Johnnie B. Bad, e daí não teve mais jeito. Descobri que era esse o som que eu queria fazer.
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Picado pelo bichinho do blues, mergulhou no mundo dos pianistas do gênero, agregando influências até chegar a novo denominador comum: New Orleans. Um dos berços da música negra americana, a cidade apresentaria a Leães um novo ídolo, o pianista cego Henry Butler, que acabaria inspirando e guiando The Power of Love em 2015 - mas, no final dos anos 1990, ele ainda era o tecladista da banda com os primos.
A brincadeira familiar durou até os seus 18, 19 anos, quando Leães, tocando em um boteco no Litoral, acabou descoberto pelo bluesman Fernando Noronha. Fez um teste numa quarta-feira e na sexta caiu na estrada como integrante da banda do músico, a poderosa Black Soul.
Com a trupe, Leães passou a se apresentar no mundo inteiro e tomou contato com gente que até então só tinha (literalmente) ouvido, como Magic Slim, Little Jimmy King, Carey Bell e Ron Levy. Tocando com os gringos, foi ganhando a cancha que lhe valeu respeito e admiração por aqui. Não demorou para começar a ter seu piano blueseiro requisitado - do nativista Renato Borghetti aos pops Os The Darma Lóvers e Cidadão Quem, passando pelo rei da psicodelia Júpiter Apple e os rockers dos Acústicos & Valvulados e da Pata de Elefante.
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- Eu sou purista dentro de casa, mas fora acho legal misturar o blues com outras coisas - diz.
E disco próprio? Leães até vinha compondo alguma coisa, mas parecia faltar algo. Em 2009, montou uma banda para dar início aos trabalhos. Mais uma vez, seu caráter gregário fez a diferença para reunir um timaço: Gabriel Guedes (Pata de Elefante) na guitarra, Edu Meireles (Black Soul) no baixo e Alexandre Papel (Locomotores, Pública) na bateria. Lançaram um EP, que ajudou a dar confiança ao grupo - e, principalmente, a Leães.
Nos anos 2010, a coisa engrenou. Em 2012, Leães levou o Açorianos de Música de melhor instrumentista na categoria instrumental pelo disco A Ordem Natural das Coisas, de Luciano Albo. No ano seguinte, abriu a apresentação de outro ídolo, Elton John, em Porto Alegre. E, em 2014, retirou-se para sua Meca, New Orleans. Foi aí que tudo se encaixou.
- Tinha composições de 15 anos antes com outras que eu havia recém escrito. Meu medo era que essas canções não dessem liga quando colocadas em um disco - explica. - Mas, quando fui para New Orleans, provei do gumbo, que é um prato típico de lá. Mistura muitas coisas que, isoladas, não fazem sentido, mas, juntas, sim.
Da viagem, Leães trouxe elementos que ajudariam a dar o rumo a The Power of Love. Adicionou, por exemplo, o trio de sopros composto por Rex Gregory (clarinete), Ben Polcer (trompete) e John Ramm (trombone), trazidos de New Orleans e que deram uma pegada jazzy a Life Is a Game; resgatou a paixão pelo rock clássico na stoniana Sho Nuff; entregou seu piano ao romance na triste Sinner, Not a Saint; e partiu para a lisergia setentista tocando um piano wurlitzer em Fight the Power com o maestro Julio Rizzo no trombone.
É um registro digno de quem sempre optou pelo poder da aglutinação. Pelo poder do amor.
5 MÚSICOS DE NEW ORLEANS
por Luciano Leães
Professor Longhair
"Misturando blues, jazz, rumba e outros ritmos, acabou criando uma maneira singular de tocar".
James Booker
"Quando Fats Domino não podia gravar as partes instrumentais de seus discos por estar em turnês, muitas vezes Booker era chamado. Das minhas maiores influências".
Allen Toussaint
"Compositor e produtor de mão cheia. Era um grande pianista e arranjador, tendo trabalhado com nomes como Eric Clapton, Paul McCartney e The Band".
Dr. John
"Fez um grande gumbo de tudo que absorveu em New Orleans: boogie woogie, R&B, zydeco, blues, pop..."
Fats Domino
"Muitos o consideram o verdadeiro pai do rocknroll. Nos anos 1950, Little Richards, Ray Charles e B.B. King abriam shows de Fats que levavam o público à loucura".
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Gustavo Brigatti
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