Praça da Alfândega da Feira do Livro, lá estão as palavras. Através delas nos construímos, nos enxergamos e procuramos dar sentido a nossos atos e a nossas circunstâncias. A humanidade é filha da palavra. É nela e por ela que somos, que existimos, que significamos.
Pelos tempos, as palavras vêm e vão, nascem e morrem, e andam nas bocas dos falantes, nas páginas impressas e nas folhas virtuais. A etimologia é ciência que investiga e cataloga as origens lexicais. Existem também desaparecimentos e retornos, e deslocamentos semânticos ocorrem nesta grande viagem da cultura que se concretiza pela palavra.
Quando os primeiros colonizadores aportaram cá por estas plagas, trouxeram, junto com o espírito aventureiro e a avidez pela conquista, as línguas e o acúmulo de experiência, de conhecimento daquele além-mar que até então parecia configurar a totalidade do planeta. Os índios que aqui moravam sequer suspeitavam da existência daquela vida ultramarina. A partir do final século 16, os idiomas luso e hispânico desembarcaram no sul da América e deram início à configuração do que somos hoje.
E assim foi surgindo o nosso singular vocabulário. Herança lusitana, espalhada pelo Brasil, mas com as peculiaridades inerentes a cada região ou comunidade. Da importância cultural e econômica do couro surge a palavra guasca. Mais tarde, no final dos 1700, pejorativamente, registra-se gaudério, que evolui para, ainda que as investigações etimológicas sempre deixem alguma dúvida, gaucho ou gaúcho. Num primeiro momento designando grupos de vagabundos, ladrões de campo, perambulantes, homens sem lei nem rei. Hoje gaúcho é gentílico: equivale a rio-grandense.
Sangue verteu, sangue secou. A lua ainda segue o caminho do sol. E há uma constelação de palavras que dizem de nós: galpão, campo, banhado, saudade, carreta, cavalo, pessuelo, adaga, tropa, cordeona, canhada. Palavras que podem ser ásperas, duras, cortantes, ligeiras. E também aquelas, como dizia Augusto Meyer, "palavras de dedo no lábio, impondo silêncio: querência, pagos, rincão."