O passado é um lugar de muitas surpresas, quando o encontramos, caros leitores. Pois um dos prazeres da vida é ver séries de TV dos tempos de antanho. É assim que se chega até a preciosidade também conhecida como A Feiticeira.
Marcelo Carneiro da Cunha: La Bombe, Part 2
Quem acha que Harry Potter trouxe a mágica para nossa sala de TV não entende nada de sala de TV, ou de mágica. A Feiticeira era a sala de TV, era o ambiente seguro do subúrbio norte-americano na era de ouro da vida deles. Assistindo às aventuras de Samantha e Darrin, bruxa e humano tentando levar uma vida normal, a gente via o sonho americano na prática, e ele era tão confortável que valia a pena abandonar uma vida de bruxarias para enfiar as pantufas e ficar ali no sofazão, sendo televisão, vendo televisão. A Feiticeira era a prova de que a TV era melhor do que a vida, mesmo em preto e branco (aqui, ao menos).
A diversão rolava por conta da tentativa um tanto impossível de ser uma bruxa dona de casa. Abdicar de todo um mundo de oportunidades em troca de um aspirador de pó não fazia o menor sentido, ao menos para Endora, a maravilhosa bruxa-mãe de Samantha.
O enfeitiçado Darrin era um publicitário que vendia bruxarias de consumo do cotidiano. O americano tipificado da época, otimista, próspero, levando a tranquila vida da América no seu auge. Para complicar a paz, só mesmo um casamento para lá de incomum. A solução para o tédio suburbano estava na escolha por uma mulher essencialmente incompatível com aquela vida. A mágica era a solução, e a mágica, ora vejam, era a TV. Por isso, A Feiticeira deu tão certo que ganhou a vida eterna, na forma de oito temporadas que incluíram uma bruxinha, Tabitha.
Portanto, pantufa, poltrona, pipoca e vamos lá.