Nem só de música se faz um bom compositor. Muito deles, de tanto se aproximar dos textos literários para criar boas letras, acabam também se tornando escritores. Neste domingo, a Feira do Livro de Porto Alegre, que começou na sexta-feira e segue até o dia 15, leva para a Praça da Alfândega alguns exemplo desta dupla atuação artística.
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Para a Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), entidade que promove a Feira, as atrações podem despertar o gosto pela leitura em quem gosta de música:
- Sempre buscamos demonstrar que as pessoas têm contato com textos literários mesmo quando não estão lendo um livro. É uma maneira de apontar que a literatura está mais presente no cotidiano do que muitos imaginam - explica Jussara Rodrigues, coordenadora da programação adulta da Feira do Livro.
Entre os destaques do dia, estão nomes conhecidos pela carreira musical, como o pernambucano Alceu Valença e a dupla gaúcha Kleiton & Kledir, além de debates e outros encontros. Veja:
Poemas com cadência de versador nordestino
Com mais de 40 anos de estrada como músico, Alceu Valença apresenta neste domingo, às 20h, no Teatro Carlos Urbim, sua estreia na literatura. O autor de canções como Tropicana e Sol e Chuva conversará com os músicos Demétrio Xavier e Luiz Henrique Fontoura sobre Poeta da Madrugada, volume de poemas que chega ao mercado no Brasil e em Portugal.
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O livro compila poemas escritos em diferentes fases da vida de Alceu. No entanto, a maior parte dos textos foi criada recentemente, em viagem do compositor a Lisboa.
- Não sei se é a presença oculta de Pessoa, Eça de Queirós, Camões ou Mario de Sá Carneiro, mas é como se a literatura pulsasse mais forte quando me encontro naquela cidade. E, de tanto escrever nas altas horas lisboetas, minha mulher Yanê passou a me chamar de Poeta da Madrugada - conta Alceu.
Há algumas letras de canções "que resistem como poemas, independente da música", como é o caso da sua clássica Anunciação. Porém, o autor alerta que os versos criados para o papel não são menos musicais do que os dos discos:
- A musicalidade é inerente ao meu processo criativo. Isso provavelmente tem a ver com a minha formação, com os cegos de feira, os emboladores, os versejadores que a cultura mourisca do Agreste e do Sertão traz consigo. Desde garoto aprendi a lidar com o universo dos decassílabos, das sextilhas e redondilhas. Sempre estou à procura do ritmo em minhas criações.
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Um livro de autores que soa como canção
Kleiton & Kledir estarão em um bate-papo com o público neste domingo, às 17h30min, no Teatro Carlos Urbim. O tema da conversa será o livro-álbum Com Todas as Letras, que registrou parcerias com nove escritores da cena local: Luis Fernando Verissimo, Martha Medeiros, Fabrício Carpinejar, Leticia Wierzchowski, Daniel Galera, Paulo Scott, Claudia Tajes, Alcy Cheuiche e Lourenço Cazarré.
Há ainda uma faixa rascunhada décadas atrás com o escritor Caio Fernando Abreu (1948 - 1996), Lixo e Purpurina, gravada em parceria com Adriana Calcanhotto. O mediador do encontro, que também terá no palco alguns dos autores participantes do disco, será o professor Luis Augusto Fischer, curador do projeto.
- O papo vai ser legal para o público saber como foi esse processo de composição. Incomodei muito os autores para que eles lembrassem que as palavras seriam ouvidas, não apenas lidas - brinca Kledir.
A dupla já é experiente em aproximar a música de outras linguagens. Em 2012, preparou o espetáculo Par ou Ímpar, ao lado do Grupo Tholl. Além do inédito cruzamento com a arte circense do Tholl, era a primeira vez que K&K compunham pra crianças. Kledir gostou tanto da experiência que resolveu registrá-la em livro, escrevendo Viagem a Par ou Ímpar, sua estreia na literatura infantojuvenil. Ele volta à Feira no dia 7 para conversar com os leitores e fazer uma sessão de autógrafos do livro.
Outros destaques musicais
- Integrantes do Coletivo Autoral Social Clube estarão neste domingo, às 14h, no Auditório Barbosa Lessa do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, para falar do processo criativo de canções. O bate-papo será mediado por Marcelo Delacroix e deverá ter como participantes Thiago Rubens, Eduardo Pitta, André Paz, Carmen Correa, Bibiana Petek, entre outros. Logo depois, às 16h30min, os compositores apresentam algumas de suas músicas.
- O encontro é uma maneira de fazer uma aproximação com o texto literário, para qualificar a produção de nossas compositores - afirma Thiago Rubens.
- O rock and roll também é objeto de estudo para sociólogos. É o que prova a mesa-redonda Sociologia do Rock, na qual o doutor em sociologia Cesar Beras conversará com os jornalistas Daniel Soares, Israel de Castro, Luiz Gonzaga Lopes, Marcel Bittencourt e Ribeiro Neto. A ideia do encontro é refletir como o rock pode ser um instrumento de rebeldia na sociedade. O bate-papo começa às 15h30min na Sala Leste do Santander Cultural e terá canja musical da banda S2+1.
Mais nomes conhecidos pela música estão fazendo literatura. Alguns deles também estarão na Feira ao longo da semana:
Tico Santa Cruz
- Vocalista da Detonautas Roque Clube, o músico é também autor dos volumes de contos e poemas Clube da Insônia (2012) e Tesão (2013) e do romance policial Pólvora (2014). Além disso, Santa Cruz é conhecido por promover discussões sobre política nas redes sociais. Ele vai conversar com o colunista Roger Lerina sobre sua obra literária no dia 5 de novembro, quinta-feira, às 20h, no Teatro Carlos Urbim.
Vitor Ramil
- Assim como seus irmãos Kleiton e Kledir, Vitor Ramil também gosta de viver na intersecção entre música e literatura. O compositor faz um bate-papo com o público sobre seu novo romance, A Primavera da Pontuação, em 8 de novembro, domingo, às 19h, no Auditório Barbosa Lessa - ao final do encontro, haverá um pocket show do músico. Vitor estreou em livro com Pequod (2003) e Satolep (2008).