Publicitário e artista visual, Paulo Jorge Pereira, ou PJ Pereira, como se identifica em suas obras, tem feito sucesso com uma combinação entre literatura fantástica e mitologia africana com sua série Deuses de Dois Mundos - trilogia que coloca os orixás africanos como heróis de uma jornada mística pelo mundo sobrenatural.
Pereira estará na Feira nesta quinta-feira, às 20h, para autografar os três livros da saga. Antes disso, às 19h, na Sala Leste do Santander Cultural, conversa sobre a série com o escritor Duda Falcão. Falará sobre como Deuses de Dois Mundos nasceu de uma curiosidade despertada por uma cultura vítima de preconceito na sociedade brasileira.
- Fui criado como um menino carioca de classe média a quem sempre foi aconselhado a manter distância dessas "coisas de macumba". Depois que conheci pessoas que viviam a realidade do candomblé, percebi o preconceito desse tipo de comentário, e mergulhei para saber mais sobre aquele universo mitológico - contou Pereira, em entrevista por telefone de San Francisco, na Califórnia, antes de embarcar para o Brasil.
A partir daí Pereira pesquisou as tradições africanas no Brasil, maravilhando-se com o caráter mágico das narrativas de uma mitologia tão próxima e, para ele, por muito tempo desconhecida.
- Enquanto crescia, essas histórias me foram sonegadas. E não por alguém em particular, mas por todo mundo, porque não se fala nelas pelo preconceito que se tem contra essas religiões. Qual a explicação para eu ter ouvido falar mais de Hércules ou de Thor do que de Xangô, por exemplo? - diz.
Pereira pintou telas com motivos ligados às tradições e aos cultos da África negra, ao mesmo tempo em que burilava uma saga literária de fantasia na qual os elementos sobrenaturais não se originavam em criaturas do folclore europeu, como trolls e orcs, mas na mitologia iorubá, com a presença de orixás como Xangô, Oxóssi e Ogum.
Amparada em uma pesquisa feita junto aos praticantes do candomblé e a especialistas como o professor da USP Reginaldo Prandi, autor de Mitologia dos Orixás, a série levou tempo para ser concebida e mais tempo ainda para ser publicada. Ao todo, uma década se passou entre a escrita e a publicação dos primeiros dois volumes, O Livro do Silêncio e O Livro da Traição, lançados ambos no ano passado, pela editora Da Boa Prosa. Pereira encerrou a trilogia com a publicação, em maio deste ano, de O Livro da Morte.
- Em um primeiro momento, percorri editoras e não tive retorno, ninguém topava publicar porque havia a ideia de que ninguém se interessaria por uma história com esse pano de fundo. Outro preconceito, claro, tanto que o último livro passou mais de um mês na lista dos mais vendidos depois de seu lançamento - afirma.
Deuses de Dois Mundos intercala duas narrativas em épocas diferentes. Na primeira, situada em um tempo e espaço míticos, o adivinho Orunmilá, após não conseguir mais interpretar as vozes dos deuses nos búzios, recebe a missão de resgatar 15 entidades místicas com o auxílio de uma caravana de orixás. Paralela a essa trama, no presente, um jornalista, em São Paulo, narra como foi ele próprio convocado para uma missão mística.