Alguém me puxa pelo braço e grita algo que eu não consigo entender. É uma menina com um chapéu que imita uma casca de tartaruga de pelúcia. Não deve ter 14 anos e está junto de outra, também pré-adolescentes, que a cutuca:
- Não, não, ele não é ninguém.
Ela solta meu braço e se vira novamente para a porta lateral do imenso estande que o YouTube montou na Brasil Game Show, em São Paulo. É lá que estarão reunidas as celebridades do mundo do videogame que não são feitas de pixels: os youtubers. Até segunda, quando a feira termina, um mar de gente terá passado por lá para tentar pegar um autógrafo, fazer uma selfie ou simplesmente tocar algum deles.
Para quem é de fora do meio - ou é simplesmente velho demais para entender como o mundo funciona hoje -, youtubers são sujeitos que montaram um canal no site de vídeos do Google para falar sobre videogames e hoje possuem audiência e fama equivalentes a rockstars. Sua força e geração de conteúdo é tão grande que obrigou o YouTube a criar uma área só para eles, o YouTube Gaming - justamente o espaço que está sendo apresentado nesta Brasil Game Show.
Scheila Mourão pertence aos dois mundos descritos no parágrafo acima: ela não joga videogame e diz já ter passado dos 35 anos. Assim como eu, ela também não entende como tanta gente (a maioria com a dentição recém-trocada) pode gostar tanto de assistir a alguém falando sobre games. Mas, diferentemente de mim, Scheila é mãe, e seu filho, Bernardo, 12 anos, passa a maior parte do tempo livre assistindo aos canais de gente que ela nem sabe pronunciar o nome.
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- Eu não entendo, mas também não proíbo, porque todos os coleguinhas assistem - me explica Scheila. - Também acabo usando como moeda de troca, tipo se ele não fizer a lição de casa ou não arrumar o quarto, fica sem conexão. Não tem erro.
No momento da conversa, Bernardo estava enfiado em um bolo de outras crianças tentando visualizar uma nesga da youtuber Malena, paulistana de 20 anos que acumula algo em torno de 1,5 milhões de inscritos em seu canal. Naquele momento, a jovem estava prestes a causar alvoroço ao aparecer no estúdio envidraçado do estande, onde participaria de um bate-papo. Para impedir qualquer invasão, uma equipe de segurança que parecia saída de filme americano protegia todas as entradas.
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Além do espaço do YouTube, os youtubers circulam por outros pontos, seja para participar de entrevistas, seja para exibições nos estande de jogos - como o Call of Duty - Black Ops 3, que durante os quatro dias de feira contaria com as presenças de Funky Black Cat, BRKsEDU, Zigueira e Patife. Daí, pontos que já são naturalmente tumultuados, tornam-se intransitáveis para os reles humanos - como eu e a Scheila, que nesse momento, já estava do outro lado dos pavilhões do Center Norte, à cata de celebridades para o filho.
Três perguntas para BRKsEDU
Quando Eduardo Benvenuti começou seu canal no YouTube, jamais poderia imaginar que precisaria de seguranças para impedir que fosse dilacerado por uma multidão de fãs. Hoje, o canal que leva seu apelido é seguido por cerca de 3,2 milhões de pessoas, o que lhe permite viver só disso. Antes de quase derrubar o estande do YouTube aparecendo no estúdio envidraçado do local, BRKsEDU conversou com Zero Hora.
Como é isso de ser uma celebridade?
Eu ainda acho muito estranho. Quando eu comecei a fazer vídeos, há uns cinco anos, eu nem pensava em ganhar qualquer dinheiro com isso e o sujeito mais bem sucedido tinha 12 mil seguidores. Hoje eu vivo só com isso e vejo esse universo se expandir cada vez mais.
E o que é preciso para ser um youtuber de sucesso?
Talento, sem dúvida. Claro que um bom equipamento e edição legal ajudam, mas não tanto quanto em outras mídias. Nesse meio, quem decide quem vai ser sucesso é o público, não tem outro jeito. Então o caminho é esse: agradar ao público.
Dá para dizer que os youtubers são uma nova mídia?
Acho que são coisas diferentes. Youtubers não são exatamente jornalistas, a gente puxa mais para o entretenimento, embora não falte informação. Mas quem quer acompanhar o noticiário de videogames, mesmo, acaba acessando os sites especializados. De qualquer forma, tem espaço para todo mundo.