Para o dramaturgo Julio Zanotta, já passou da hora de jogar luz sobre um dos períodos mais obscuros do sul do país: a violenta Revolução Federalista. E se o tema não costuma estar tão presente assim na memória dos gaúchos, o diretor quer resolver este problema nos palcos. O conflito é o pano de fundo de A Guerra Civil de Gumercindo
Saraiva, espetáculo que estreia nesta quinta-feira na Sala do Acervo do Museu do Trabalho (Andradas, 230), ao lado do Teatro do Museu.
Releia entrevista de fôlego que o autor concedeu a Zero Hora em 2013:
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- A Revolução Farroupilha é tratada com certo glamour. Já com a Federalista não tem isso. Falta reconhecimento. É uma história que precisa ser contada - avalia Zanotta, que assina o texto e a direção do musical.
Pela segunda vez, ele mergulha na vida de um personagem histórico - o dramaturgo também é autor de uma peça sobre Che Guevara. Agora, o escolhido é Gumercindo Saraiva (1852 - 1894), um dos principais nomes da revolução iniciada em 1893. Logo após a proclamação da República, dois grupos políticos disputavam o poder no Rio Grande do Sul.
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Alguns eram favoráveis ao governo de Júlio de Castilhos, alinhado com o presidente Floriano Peixoto, enquanto os rebeldes eram contrários à imposição republicana. Saraiva se aliou aos maragatos, contra os castilhistas, unindo-se a Joca Tavares e Gaspar Silveira Martins.
Para escrever o texto, Zanotta percorreu a trajetória do caudilho. Desde 2010, esmiúça a vida de Saraiva (Gaio Fontella) e detalhes da Revolução da Degola - como também é conhecida a guerra civil - por meio de pesquisas extensas, conversas com historiadores e visitas ao local dos fatos.
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- O personagem que criei é um libertário. É um Gumercindo mais metafórico, que luta por seus ideais. Mas a história em si é complicada, pois envolve muitas figuras - conta Zanotta.
Quem ajuda a situar o público na narrativa são uma senhora e uma menina que acompanham a guerra de perto. A trama se desenrola a partir da invasão de Saraiva no Estado - estima-se que, durante a revolução, suas tropas tiveram mais de 6 mil homens -, culminando com a morte do caudilho. As canções executadas ao vivo, com letras de Zanotta, entrelaçam os fatos - a direção musical é de Henrique Pasqual.
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O público, restrito a 40 pessoas, acompanha a encenação nas cadeiras espalhadas pela sala do acervo, em meio a máquinas antigas, ferramentas e artefatos rústicos. Um dos destaques da cenografia são os 200 metros quadrados de telões do artista Wilson Cavalcanti (Cava), que ganham novas perspectivas com uma iluminação feita com lanternas.
Quem foi Gumercindo Saraiva
O montonero maragato foi um dos principais chefes militares da Revolução Federalista. Nasceu próximo à fronteira com o Uruguai e, em 1893, anunciou seu apoio aos oposicionistas de Júlio de Castilhos. Suas tropas adentraram os Estados do Sul. Teria morrido com um tiro desferido por um franco-atirador.
A GUERRA CIVIL DE GUMERCINDO SARAIVA
Estreia quinta-feira. De quintas a domingos, às 20h, até 20/12.
Sala do Acervo do Museu do Trabalho (Andradas, 230).
Ingressos a R$ 40 (há desconto de meia-entrada).
Ponto de venda: bilheteria do Museu de Trabalho (terça a domingo, das 14h às 18h30min, sendo que, nos dias das sessões, a venda segue ininterrupta até as 20h, quando começa o espetáculo).