"Compreender uma conduta humana é quase justificá-la e, por isso, por atenuá-la, identificar-se com ela." A tese do escritor Primo Levi, que admitia não compreender a disposição nazista de odiar os judeus, vale ainda hoje. Ódios raciais e religiosos extremos. Outros contextos, mesma loucura. Não compreendo o Estado Islâmico e a selvageria de suas ações. Apagar o passado humano através da destruição irracional da História: para quê? O mergulho na perversidade, a crueldade tratada como virtude, a adoção de uma brutalidade histérica, o apetite da morte em todas as direções: o planeta novamente imerso em apagão civilizatório.
Milhares de pessoas estão deixando suas vidas para trás, encontrando fronteiras fechadas, futuros erráticos. Homens à deriva, tratados como bichos. Que mundo é o nosso, que banaliza a barbárie? Que mundo foi o mundo de Primo Levi? Perguntas paralelas ao término da leitura de A Zona de Interesse, de Martin Amis, romance excepcional, sombrio e obrigatório.
Pirro, primo de Alexandre, foi um rei guerreiro. Após derrotar o exército romano, entrou para a História por uma frase para lá de realista: "Outra vitória igual a esta será o meu fim!". Governantes deveriam aprender com a "vitória de Pirro". Que gente é essa que mente para chegar ao poder e, em lá chegando, esquece o compromisso de seu próprio discurso? Vencer eleição assim, postergando medidas impopulares para depois do resultado, tem o custo de dois tiros: um no próprio pé, outro no coração dos eleitores enganados.
Enquanto Maduro faveliza a Venezuela e Padura diz que a política de Fidel destruiu sua ilha, leio Maffesoli, para quem intelectuais de esquerda, em sua maioria, são conservadores, pois "não querem ver as coisas como são, mas como querem que sejam ou gostariam que fossem". É isso mesmo? Ninguém me acuse de ser de direita. Não sou. Esquerdista ortodoxo, tampouco. Tá tudo muito errado por aqui e não defendo coisas erradas. Quero estar a favor do que é certo, só isso.