Exibido em abril passado na Capital, pelo projeto Sessão Plataforma, La Sapienza chega agora ao circuito comercial, com sessões a partir desta quinta-feira no Guion Center 3. É uma boa oportunidade para conhecer a obra de Eugène Green, diretor americano naturalizado francês que tem uma trajetória peculiar: realizou seu primeiro filme, Todas as Noites (2001), aos 54 anos, após consolidar uma respeitada carreira como dramaturgo, poeta e historiador.
La Sapienza é seu quinto longa-metragem, o primeiro com lançamento no Brasil, e nele Green investe em uma proposta de cinema cada vez mais rara de se ver na programação regular. Trata de temas, digamos, eruditos, faz do espectador um interlocutor de sua narrativa e impõe a seus atores uma interpretação desidratada de naturalismo e propositalmente impostada.
Green, como se vê em La Sapienza, não busca um hermetismo conceitual para deixar o espectador sem chão. Ao contrário, ao colocar seu elenco a falar diretamente para a câmera, encarando a plateia com o rompimento da chamada "quarta parede" dramatúrgica, o diretor cria um ambiente de sedutora intimidade com seus personagens e cenários para compartilhar beleza e conhecimento.
Premiado filme chileno O Clube fala de abusos sexuais na Igreja
Perdido em Marte mostra drama de astronauta no Planeta Vermelho
Conheça 10 filmes que podem estar na festa do Oscar em 2016
La Sapienza acompanha o arquiteto francês Alexandre Schmidt (Fabrizio Rongione) em uma viagem pela Itália com sua mulher, Aliénor (Christelle Prot). Alexandre vive um momento de impasse profissional e afetivo. Busca na jornada um reencontro com as obras de dois mestres da arquitetura barroca que admira: Francesco Borromini, criador da Igreja de Santo Ivo em La Sapienza, erguida em Roma no século 17 e inspiração para o título do filme, e o também escultor Gian Lorenzo Bernini.
A discussão sobre os estilos e legados desses dois artistas entusiasma Alexandre, e o arquiteto a exercita quando ele e a mulher conhecem na cidade de Stresa os irmãos Goffredo (Ludovico Succio), jovem que deseja estudar arquitetura, e Lavinia (Arianna Nastro). Diante de um mal-estar da garota, Aliénor decide ficar com ela, enquanto Alexandre e Goffredo seguem com as visitações encarnando os papéis de professor e encantado pupilo.
Green apresenta uma inventiva e potente comunhão entre imagem, com seu passeio contemplativo por entre obras de arte e prédios históricos, e palavra, nos diálogos literários em francês e italiano. O conjunto é complementado pela envolvente trilha sonora, que faz ressoar joias como Magnificat à 6 Voix, de Claudio Monteverdi, compositor barroco recorrente nos filmes do diretor.
La Sapienza
De Eugène Green
Drama, Itália/França, 2014, 104min. Em cartaz no Guion Center.
Cotação:4/5