De belos álbuns de estreia, o mundo está cheio.
O difícil, todo mundo sabe, é sustentar a qualidade dali para frente. Mas isso não parece ser uma preocupação para Ian Ramil, que lança nesta terça-feira Derivacivilização, seu segundo disco:
- Quando o primeiro saiu (IAN, de 2014), eu nem queria mais lançar o primeiro. Eu queria lançar esse. Não tive tempo de me preocupar, de nada, simplesmente foi natural.
Reunido com o grupo que já lhe acompanhava em shows, Ian arranjou uma viagem a Pelotas, rumo à casa de infância, para gravar um disco que soa como descreve: com clima de "gurizada descendo a lenha". A dita gurizada é composta pelo guitarrista Felipe Zancanaro, da Apanhador Só; o baixista Guilherme Ceron; o baterista Martin Estevez, da Quarto Sensorial; e o clarinetista e pianista Pedro Dom, da Orquestra Celestial do Livre Arbítrio.
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- A ideia desse disco era justamente captar esse clima que temos tocando juntos, ao vivo. O primeiro teve outra abordagem. Nesse meio tempo, produzi algumas coisas de alguns artistas, fui entendendo como o processo influencia o resultado final do disco - conta Ian, sentado a uma mesa cheia de álbuns.
Em vídeo, Ian fala de cinco referências que o ajudaram a compor e gravar Derivacivilização
O resultado foi um trabalho menos polido que o début - mais barulhento, com influências que vão da garagem a manguebeat e Radiohead - e que, mais do que isso, faz uma crônica simples, direta, de uma geração que deixou de imitar ídolos ao falar de álcool, drogas e garotas para, em vez disso, falar dos próprios sentimentos.
Isso tudo fica claro na faixa que dá título ao disco. O refrão "Alguém precisa virar o jogo", intercalado com a estrofe "Já vai passar", emula a angústia de Fitter Happier, do Radiohead de OK Computer (1997). Apesar de ter seus momentos grandiloquentes, Derivacivilização mostra também uma faceta - não nova, mas não menos interessante - de escracho juvenil em Coquetel Molotov ("O mundo é um skinhead e eu sou um gay", reclama a letra) e Artigo 5º, além de boas canções sobre o cotidiano.
Devagarinho, delicada faixa de voz e violão, põe em música um sentimento conhecido de todos: às vezes, tudo o que se quer é acordar e ficar na cama. Durante uma audição comentada na última sexta-feira na Casa de Teatro, em Porto Alegre, os comentários não foram muito diferentes. Felizes com o resultado, amigos e fãs passaram quase três horas reunidos no auditório para discutir o processo e o impacto das canções.
Seguindo o conceito de deriva, Ian agora planeja agradar à multidão anônima que financiou a finalização do disco por meio da plataforma de crowdfunding Catarse. Shows em parques já estão previstos (dia 24, na Praça Coronel Pedro Osório, em Pelotas, e dia 25, no Parque da Redenção, em Porto Alegre). E, em 17 de dezembro, o Theatro São Pedro já está reservado.
DERIVACIVILIZAÇÃO
De Ian Ramil Rock, Escápula Records
R$ 25 (CD) e disponível em canais de streaming e para download no site ianramil.com Cotação: 4/5