Perdi as contas de quantas vezes precisei explicar por completo a trajetória da minha vida para fazer as pessoas entenderem por que me considerava - e considero - alegretense. Nasci em Montenegro, terra que mantém as raízes da família de minha mãe e na qual deposito as memórias das férias na casa da avó. Vivi em Panambi (onde, me contaram, fui gerada), Horizontina, Palmeira das Missões, Cruz Alta, Santa Cruz e, já há duas décadas, Porto Alegre.
De cada lugar levei um pouco, vivências que me fizeram entender um Rio Grande diverso, miscigenado, plural na herança de tantas etnias. Mas sempre trouxe comigo um sentimento de ser da fronteira. Imagino que, assim como eu, todas as pessoas mantêm vivas lembranças de lugares importantes onde viveram, e isto dá um significado maior à palavra pertencimento. Disse meu mano mais velho que somos resultado dos lugares onde vivemos e das pessoas com quem convivemos. E é bem isso!
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No final de semana, tive a alegria de voltar à cidade que sempre chamei de Querência. O Alegrete me acolheu aos seis anos, me deu tradição, família, amigos, histórias, música, dança. Voltei e percebi que tudo segue vivo e pulsante no meu coração.
No CTG Farroupilha, onde dei meus primeiros passos de dança, o primeiro palco em que cantei e recitei poemas, onde recebi com honra as faixas de primeira prenda. No Colégio Divino Coração e no Emílio Zuñeda, no banco onde o pai trabalhava, na loja onde a mãe comprava os tecidos dos meus vestidos, na casa da esquina da Andradas, onde morei. No olhar de cada amigo, no aplauso de cada um quando cruzei a praça a cavalo, "cortando o 20 de setembro" depois de 22 anos. No abraço apertado de meu professor de violão, Vicente, que me incentivou e disse que eu devia cantar. Tanto do que me forma como ser humano, dos valores que carrego e até das profissões que exerço de cantora e comunicadora.
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Recebi de volta todo esse amor no último dia 21 de setembro. Um amor natural e verdadeiro que tenho por essa terra que amei desde guria, como disse o Nico. Essa terra que despertou-me para a arte e para o Rio Grande. E dela recebi o título de filha. Agora sou cidadã alegretense. E hoje preciso agradecer!