No dia em que correu o mundo a notícia de que o Estado Islâmico explodira o templo de Baal-Shamin, na Síria, relíquia com mais de 2 mil anos e considerada patrimônio da humanidade, assisti a Mil Vezes Boa Noite, cinema adulto, comovente e assustador. Juliette Binoche encarna uma personagem dividida entre o amor real por sua família e o trabalho como fotógrafa de guerra em zonas de conflito. O filme termina com cena impactante: a preparação de uma menina-bomba para imolação terrorista. Enquanto uma van a leva para seu destino, a mãe cai de joelhos na rua de areia, seguida por uma Binoche perplexa.
Apaguei o DVD e a lâmpada. Treva e escuridão, dia medonho. Seja nos países do Oriente Médio ou nos bairros sem segurança de Porto Alegre, a barbárie ronda o mundo e avança. Mas não dá pra ficar trancado em casa, renunciar à vida, semear medos paralisantes. Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Andar na rua, ir ao teatro, rir, sonhar, valorizar coisas legais.
O disco novo de Mauricio Pereira, se dependesse de mim, ganharia a capa de todos os cadernos culturais da imprensa brasileira. Pra Onde que Eu Tava Indo é bom demais. Começa com Nelson Cavaquinho e termina com o Ciao Amore, Ciao, do Luigi Tenco. Entre os dois petardos, 10 canções inéditas, uma genial: Criancice. Todas, absolutamente todas, incríveis.
Já que falei nela no início, termino contando uma história verídica. Em Paris, acompanhando o Festival de Tango do meu amigo Villalba, parei na sala do diretor do teatro para cumprimentá-lo. Engatamos uma conversa interminável até que, constrangido, me convidou a tomar café com uma amiga que o estava esperando. Convite aceito, fomos onde a tal amiga, Juliette Binoche em carne e osso, já o aguardava. Passamos horas, os três, conversando, ela muito simpática e enlouquecida com a filha que não parava quieta. Na volta, meu novo amigo pediu desculpas por me fazer ficar tanto tempo com eles.
Pedir desculpas por me apresentar Juliette Binoche? Só na França...