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O dramaturgo e teórico do teatro alemão Bertolt Brecht (1898 - 1956) escreveu a peça A Vida de Galileu em 1938, em plena ascensão do nazismo, ao qual notoriamente se opunha. Nesta, que é uma de suas mais importantes obras, buscou na biografia do revolucionário astrônomo e matemático italiano Galileu Galilei (1564 - 1642) elementos para refletir sobre seu tempo. Com a intenção de preservar a atualidade do texto, Brecht chegou a reescrevê-lo nada menos do que três vezes.
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Também motivada pela ideia de falar sobre o presente, agora no século 21,
Denise Fraga se uniu à diretora Cibele Forjaz para encenar uma versão do texto, intitulada Galileu Galilei, que elas trazem ao 22º Porto Alegre Em Cena. As sessões serão de amanhã a sábado, às 21h, no Theatro São Pedro (até terça-feira, 8/9, ainda havia ingressos para a sessão de quinta-feira, 10/9). A trama narra a defesa, por parte de Galileu, da tese de que a Terra gira em torno do sol, seguindo o pensamento copernicano e opondo-se ao que pregava a Igreja católica. Por causa da perseguição religiosa, o cientista foi obrigado a negar sua teoria, tendo de viver em prisão domiciliar (apenas em 1992 a Igreja reconheceu que errou no caso de Galileu).
- A peça é muito propícia hoje - afirma Denise, que interpreta o protagonista. - Será que precisaremos negar nossas maiores verdades, como Galileu, para não ir para a fogueira? Acho que fazemos isso todos os dias. Nossa fogueira maior é essa ditadura oculta do senhor mercado. Vivemos em uma sociedade pautada pelo que é rentável. Vendidos todos estamos, mas até que ponto? Essa é a questão.
Quem esperar uma peça austera por causa do tema histórico poderá se surpreender, garante a atriz:
- É de Brecht a máxima "divertir para comunicar". Eu me identifico profundamente com isso. Você diverte para transformar, para fazer refletir.
O espetáculo leva o mesmo título da histórica montagem realizada pelo Teatro Oficina, em 1968, estreada no dia em que foi promulgado o AI-5. Era claro o paralelo entre o autoritarismo religioso enfrentado por Galileu e a repressão dos brasileiros durante a ditadura militar. Sem desmerecer a referência, esta nova encenação busca sua própria atualidade, como observa Cibele, a diretora, que tem uma trajetória de 10 anos com o Oficina:
- Naquela época (ditadura militar), você sabia contra quem lutava. Hoje, vivemos um momento mais difuso e, ao mesmo tempo, totalitário. Com a chamada perda das utopias, parece que não existe nada fora do capitalismo. Vemos os meios de comunicação ditando uma visão de mundo, parece que ele não é mais transformável. Mas Galileu diz que é preciso duvidar das verdades prontas.
Entrevista com Denise Fraga:
Como foi a temporada do espetáculo em São Paulo?
Foi incrível. A gente lotou o Tucão (Teatro do Tuca) desde o dia da estreia. Confiava no poder da peça, mas confesso que fiquei de boca aberta com sua popularidade. Acho que a Cibele (Forjaz, diretora) conseguiu fazer um espetáculo festivo, popular, épico. E brechtiano. Entre os espectadores, havia estudiosos de Brecht, pessoas que nunca tinham ouvido falar dele, crianças...
E como foi sua reação?
A peça faz pessoas que estavam desistindo de si irem diferentes para o escritório na segunda-feira. Não sei se é utopia da minha parte, mas tenho visto as pessoas comentando. Acho que nunca fiz uma peça em que visse a potência transformadora da arte acontecer tão plenamente. Ocorre várias vezes, na sessão, de eu falar o texto e ver as cabecinhas (dos espectadores) balançando, tipo uma concordância. É muito bonito, nunca tinha visto isso (risos).
O espetáculo não distanciou o público, como se imagina em relação a Brecht?
Quando as pessoas falam que Brecht queria que a plateia se distanciasse, eu digo: "Ele queria que ela se aproximasse, e aí ele dava um susto". Tem cenas que beiram o folhetim, para você torcer pela mocinha ou torcer para que os personagens fiquem juntos. Depois, ele quebra com isso, como se falasse: "Você não vai fazer nada a esse respeito?". Ele chama você para o coletivo, te recruta. Lembra que você pertence à história da humanidade e que pode fazer alguma coisa por ela.
GALILEU GALILEI
Desta quinta-feira (10/9) a sábado (12/9), às 21h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100.
Ingressos: R$ 80 (até ontem, restavam poucos ingressos para a sessão de amanhã; as demais estão esgotadas).
Desconto de 50% para sócio do Clube do Assinante e acompanhante.
22º PORTO ALEGRE EM CENA
Até 21 de setembro em diferentes espaços da Capital.
Ponto de venda sem taxa: Usina do Gasômetro (João Goulart, 551), todos os dias, das 12h às 18h.
Pontos de venda com taxa: loja My Ticket Padre Chagas (Padre Chagas, 327), de segunda a sexta, 9h às 18h, sábado, das 10h às 15h), call center 4003-1212 (segunda a sexta, das 9h às 22h, sábados, domingos e feriados, das 12h às 18h), site ingressorapido.com.br.
Quando houver disponibilidade de ingressos no dia do espetáculo, os bilhetes também serão vendidos uma hora antes do início da apresentação diretamente no local.