Na Colômbia, terra onde nasceu, criou império e morreu Pablo Escobar, Narcos é, no máximo, o segundo melhor seriado sobre a história do traficante que comandou o poderoso cartel de Medellín.
A produção estrelada por Wagner Moura e que tem José Padilha na direção de alguns episódios e trilha de Rodrigo Amarante, brasileiros, não pegou bem no país vizinho: o sotaque do ator, imprecisões históricas e a sombra de Pablo Escobar, O Senhor do Tráfico fazem Narcos ser considerado "uma decepção" por jornalistas culturais colombianos. Em uma resenha publicada na segunda-feira, a Arcadia, uma das principais revistas culturais daquele país, diz que "apesar de contar com uma boa produção, a série é uma miscelânea de sotaques e atuações medíocres que não convencem".
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A percepção é compartilhada por Andres Hoyos Vargas, jornalista cultural do El Tiempo, um dos principais jornais da Colômbia. Para ele, apesar de ser bem produzida, a série peca nos "pequenos detalhes":
- Acho que Narcos é uma grande produção, uma boa série, mas não vai funcionar no meu país. Em primeiro lugar, o portunhol de Moura é muito estranho para um espectador colombiano. Ele é um bom ator, mas Andres Parra já interpretou Escobar em O Senhor do Tráfico e foi incrível. E essa série ficou muito famosa por aqui - compara o jornalista.
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Vargas lembra ainda que o assunto Pablo Escobar é uma constante na ficção colombiana, o que pode ajudar no fracasso da produção junto ao público do país, que, segundo ele, "já está cansado de ouvir falar de Escobar, Escobar, Escobar". No Brasil, O Senhor do Tráfico chegou timidamente. Foi transmitida pelo canal pago +Globosat e está disponível no serviço de streaming dos canais da rede.
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A produção é lembrada por praticamente todos os textos publicados na Colômbia sobre Narcos. Para Cesar Rojas, editor do site da revista Arcadia, é algo natural, já que a série colombiana é melhor. Ele ressalta que o assunto - tráfico, cartel de Medellín, Pablo Escobar - é visto com um pouco de implicância na Colômbia:
- É difícil generalizar, dizer que reprovamos totalmente ou nos acostumamos, mas as produções colombianas que estão triunfando no Exterior não tem nada a ver com o narcotráfico. E isso é bom.
No país, também se discute muito a precisão das informações apresentadas por Padilha. O crítico Germán Yances, em entrevista a El Heraldo, diz que é "absolutamente falsa" a personificação de Escobar feita por Moura e que a história contada "não é crível".
Apesar disso, no Brasil, a série é sucesso de público e crítica. A primeira temporada de Narcos está disponível na Netflix.