Às vezes os paulistanos inventam umas coisas... Há pouco tempo, se meteram a discutir a morte da canção com argumentações acadêmicas profundas que provavam, por A mais B, que a canção estava de fato morrendo. Se é que já não estava defunta, a depender dos acadêmicos paulistanos. Pois bem: quem olha a programação do Porto Alegre Em Cena jamais diria que a canção esteve sequer adoentada. De A (de "Adriana") a Z (de "Zélia"), não há o que não satisfaça.
É deliciosamente contraditório que um festival de teatro se dedique tanto à música. Sempre foi assim. Há décadas, quando ninguém ainda achava de bom tom combinar uma coisa com outra, o festival já ousava. Como esquecer Philip Glass, lá longe no tempo, ou Ute Lemper, mais próxima? Até então, nunca tinham vindo aqui. Vieram.
Fizeram bonito. Quando calhou a oportunidade, até pensaram em voltar. Agora em setembro, mais espetáculos de música. Todos de canção. É o setembro da canção, sem tirar nem por.
Tirando Meredith Monk, que já foi, até o final do mês há uns passos firmes em direção à música + poesia, essa parceria indestrutível que se transformou em coisa tão brasileira, com tanta relevância social, presente onde quer que se ouça. Os nomes desta noite de segunda-feira são Lívia e Arthur Nestrovski e José Miguel Wisnik, que volta na terça com outra parceira da canção paulistana, Ná Ozzetti. Depois vêm os locais e os nacionais.
Musicapoesia, nome bem bom para o show de Cid Campos e Adriana Calcanhotto. Zélia Duncan cantando Itamar Assumpção. Baby do Brasil remexendo memórias.
As coisas não terminam com o espetáculo de Badi Assad no dia 20. Naquela mesma semana, a Orquestra de Câmara Theatro São Pedro também visita a canção com Canção Necessária, uma nova visita de Nestrovski, Ná & Zé, para além do Porto Alegre Em Cena. São músicos e cancionistas já estabelecidos em maior ou menor grau que fazem esse setembro da canção.
Nem se falou de convidar os novos e seminovos, que são tantos. Afinal, parece que não há tempo para tudo. Nem para a morte da canção há tempo, ela que, pelo que se ouve, ainda tem sinais vitais fortes. Bem fortes.