PamPiano é a estética do frio da música clássica, o templadismo do piano erudito. Antes era só um CD que agora se transformou em DVD e site (pampiano.com), com tudo o que é de direito num projeto unindo som e imagem. Não chega a ser uma proposta de renovação da linguagem audiovisual da música erudita, mas é quase, com a vantagem de ficar longe dos resultados constrangedores que às vezes acompanham essas experiências.
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No caso da homenagem da pianista Olinda Allessandrini às músicas do pampa e da celebração de Caio Amon às imagens do pampa, se trata de uma viagem que se faz de emoção em emoção por 14 composições e 14 videoclipes. É uma festa brasileira, uruguaia, argentina, para ouvir e para ver, um acúmulo de bom gosto.
Vai-se do brasileiro Dimitri Cervo ao argentino Alberto Ginastera, passando por um certo Ariel Ramírez, que uma vez vi reger sua Misa Criolla em São Miguel das Missões - se não foi um dos concertos da minha vida, esteve bem perto.
Olinda Allessandrini tem se ocupado do casamento entre música e imagem. Num projeto anterior, cabia ao leitor ir folheando o livro ilustrado por Clara Pechansky para dar vida e movimento às Cirandas de Villa-lobos, boas de ver e melhores ainda de ouvir. Agora, em PamPiano, Caio Amon se encarrega do movimento e da imagem, sempre na direção certa, enquanto Olinda percorre o teclado para tocar com muita sinceridade essas músicas que são bem nossas.
Tudo se completa com as explicações bastante esclarecedoras de Olinda sobre as músicas. Fiquei especialmente impactado com o final do comentário sobre Noite Estrelada de Susana Almada, composta especialmente para o projeto. Olinda diz que o final da música é "quase como se fosse uma despedida" - ora, só quem sabe que Susana foi uma aparição fugaz na música do sul entende a profundidade da frase.
Pampiano é também isso: uma lição sobre o nosso pampa em música - o que ele é, o que ele foi, o que poderia ter sido.