Em sua obra referencial, O Cancionista, o professor, pesquisador e compositor Luiz Tatit indica que "compor uma canção é procurar uma dicção convincente". Dimensionando o que seja dicção composicional, o autor localiza aspectos pertinentes à empresa individual de determinados cancionistas que acabam criando, por suas genialidades, uma personalidade, um local, uma transparência que os identifica.
Gostaria de refletir aqui sobre a maestria de algumas parcerias - letristas e melodistas - do nosso cancioneiro, cujo encontro parece haver oportunizado a identificação de um ato composicional íntegro e único dentro do universo regional ao qual se inserem. Não estou me referindo a canções solitárias que possivelmente localizemos, mas falo de um conjunto homogêneo, e ainda assim diversificado em sua inteireza, de canções assinadas por uma mesma dupla durante um período de tempo que se possa recortar.
Focalizando o período inaugurado pela Califórnia da Canção Nativa, de imediato surge o nome de Apparicio Silva Rillo (que neste 8 de agosto estaria completando 84 anos) em sua obra cancionista com os parceiros José Lewis Bicca, Mario Barbará e Luiz Carlos Borges. Um mesmo letrista construindo nessas parcerias três dicções distintas e irrepetíveis.
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O conjunto de canções criadas pela dupla Marco Aurélio Vasconcelos e Luiz Coronel também pode ser inscrito num mapa cuja a engenhosidade estética se faz significativa. Ainda podemos elencar os encontros de Luiz Carlos Borges com Mauro Ferreira e com Luiz Sérgio "Jacaré" Metz, e este, por sua vez, sendo uma das vozes da boca do Tambo do Bando; as palavras de José Hilário Retamozo encontrando as melodias de Juarez Chagas; poderíamos seguir, e as contas desse rosário não haveriam de acabar em breves liturgias.
Por óbvio, também há aqueles que solitariamente atingiram e continuam a atingir as alturas dessa grandeza estética. Exercitam uma regionalidade que os eleva ao céu das grandes criações artísticas. Como meu mote era parcerias e dicções, cito apenas: Telmo de Lima Freitas.