Para os guarani mbyá, o sol é uma divindade. Toda manhã, assim que "nhamanderú nhamandú" se ergue iluminando a aldeia e a mata ao redor, os índios acordam e se reúnem em torno do fogo para tomar chimarrão. Contam seus sonhos, conversam sobre presságios e ouvem os ensinamentos dos mais velhos. Esse ritual, que mostra um pouco da influência indígena na cultura gaúcha e missioneira (o fogo, o mate, a reunião), os ajuda a despertar o olhar e a receber energias para mais um dia de trabalho e atividades comunitárias que se inicia.
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Desse mesmo sol vem a luz que torna possível as câmeras fotográficas capturarem o mundo externo. Mas essas imagens não fazem com que os mbyá se encantem pela invenção dos brancos ou vejam nelas algum tipo de aparição divina.
- As ferramentas estão aí para serem usadas. As imagens, assim como as palavras, podem ser usadas para o bem e para o mal - diz Vherá Poty, 27 anos, cacique da aldeia dos mbyá em Itapuã, Viamão, a cerca de 40 quilômetros do centro de Porto Alegre.
Vherá Poty passou os últimos sete anos documentando, junto com o fotógrafo porto-alegrense Danilo Christidis, o cotidiano de 15 aldeias no Rio Grande do Sul. O encontro desses olhares resultou no livro Os Guarani Mbyá, que reúne mais de cem imagens que iluminam não só o modo como são vistos, mas também compreendidos. O lançamento será nesta segunda-feira, às 19h, no Museu da UFRGS, junto a uma exposição com fotos e vídeos.
Registradas por um cacique e um fotógrafo iniciado na cultura indígena, as imagens de Os Guarani Mbyá conjugam apuro estético com um registro íntimo de hábitos e costumes que resistem ao tempo. De início, chama atenção que os mbyá não lembram o visual exótico das etnias mais ao norte do país - esqueça o índio com penas, cocar e quase nu. Nesse sentido, as fotos desconstroem estereótipos.
- Descobri a potência da fotografia para expressar nossa linguagem e cultura, que são mal interpretadas - diz Poty.
No livro e na exposição, é possível perceber o quanto o convívio comunitário e a noção de família são a base da cultura mbyá. E também como o trabalho na roça, as caçadas na mata e os rituais coletivos dão sentido a uma alegria de viver.
Povo originário
No Estado, há pelo menos 30 aldeias guarani mbyá, um dos povos originários da América do Sul. Esses índios vivem em áreas espremidas pela expansão urbana, tentando manter a relação ancestral com o território transmitida pelos antepassados. Histórias orais contam que eles migraram há mais de 3 mil anos da região amazônica para se estabelecer em uma área que compreende desde o Paraguai até o sul do continente. É uma geografia orientadora e fonte de significados de toda uma cosmologia e espiritualidade mbyá, mas que foi recortada pelas fronteiras dos países impostas por espanhóis e portugueses.
Essa história costuma ser contada sob o ponto de vista dos descobridores. Ou dos invasores, se a perspectiva for invertida. Foi para apresentar a versão dos próprios índios que surgiu o projeto fotográfico sobre os mbyá, um subgrupo guarani. Tudo começou em 2008, quando Danilo Christidis conheceu o cacique Vherá Poty e passou a lhe ensinar fotografia na aldeia. Logo, os papéis se inverteram.
- O Danilo enxergava de uma forma, e eu de outra. Aí, eu disse: "A gente vai te receber como uma criança que precisa ser educada" - lembra Vherá Poty.
- Ele logo passou a fazer fotos muito boas. Comecei a aprender com o Poty, a ver as coisas de outra forma e a me rever como fotógrafo - conta Danilo.
Além de 108 fotos da dupla, o livro traz textos do antropólogo José Otávio Catafesto de Souza e do próprio Vherá Poty. Danilo conclui:
- O livro é uma ferramenta para que se compreenda os mbyá e as formas como se integram à sociedade mantendo seus valores. É um povo que está no presente. Temos muito a aprender com eles sobre equilíbrio, harmonia, espiritualidade e o sentido da existência.
Os Guarani Mbyá
Lançamento do livro e abertura da exposição na segunda-feira (17/8), às 19h, no Museu da UFRGS (Avenida Osvaldo Aranha, 277, campus central), em Porto Alegre, fone (51) 3308-3562. Visitação até 27 de setembro, de segunda a sexta, das 9h às 18h. Gratuito.
A exposição: apresenta vídeos e fotografias ampliadas do livro Os Guarani Mbyá, do cacique Vherá Poty e do fotógrafo Danilo Christidis. Na abertura, a obra estará à venda por R$ 70.
Preste atenção: como o Museu da UFRGS abre no último sábado do mês, a exposição poderá ser visitada no dia 29/8, das 9h às 13h.
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