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Entre as muitas comédias e os eventuais dramas que pontuam sua vasta filmografia, Woody Allen vez que outra investe em tramas de suspense tensionadas pelo conflito moral imposto por um crime. Em cartaz a partir desta quinta nos cinemas, O Homem Irracional coloca-se no grupo de filmes em que figuram, entre outros, o ótimo Crimes e Pecados (1989), o bom Match Point (2005) e o mediano O Sonho de Cassandra (2007) - e é com esse que o novo trabalho ombreia no resultado.
Ao apresentar fora da competição O Homem Irracional no Festival de Cannes, em maio passado, Allen, 79 anos, disse que segue fazendo filmes para ajudar as pessoas a se distrair dos horrores da realidade. E, para esse mais recente, o diretor achou por bem destacar como a filosofia tem estimulado através dos séculos o homem a racionalizar sobre essa realidade, buscando nela respostas para suas inquietações existenciais, morais e éticas.
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Em O Homem Irracional, porém, o cineasta propõe um olhar cético sobre os totens do pensamento universal na conduta de seu protagonista, interpretado por Joaquin Phoenix. Abe é um professor de filosofia alcoólatra e abalado pela separação da mulher que o traiu com melhor amigo.
Ao chegar para lecionar na universidade de uma pequena cidade de Rhode Island, na Costa Leste dos EUA, sob desconfiança quanto a se tem condições para assumir um posto aquém da fama de respeitado e problemático intelectual que o precede, Abe se vê diante de um triângulo amoroso. É prontamente cercado por uma colega, Rita (Parker Pousey) e atrai a jovem aluna Jill (Emma Stone).
Passando em revista conceitos de pensadores como Kierkegaard e Kant, Abe destila sua amargura com as desilusões da vida questionando o sentido de ensinar "jovens amáveis, mas medíocres, que quando crescerem vão moldar o mundo com sua ignorância". Para o mestre, um abismo separa a vida real do mundo teórico e do "besteirol filosófico" E sentencia: "Boa parte da filosofia não passa de masturbação verbal".
Allen deixa então as divagações filosóficas de lado e saca da estante um de seus escritores favoritos, Dostoiévski, buscando em Crime e Castigo a reviravolta na trama de O Homem Irracional.
Abe enxerga no planejamento de um crime o estímulo para sair do marasmo, inclusive sexual. Ao ouvir uma conversa sobre um juiz que prejudicou uma mãe tirando-lhe a guarda dos filhos, o professor decide dar cabo do magistrado. Por não ter ligação com a vítima, acredita, não será suspeito e cometerá o crime perfeito, crença que manterá até o desenrolar rocambolesco da trama aprontar suas armadilhas.
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O Homem Irracional, a despeito de sua graciosa pretensão intelectual, patina ao investir em uma trama de suspense policial que não dá muita liga à narrativa e que apresenta um desfecho involuntariamente risível. É natural que na frenética produção de um longa por ano, Woody Allen alcance altos e baixos, o que faz vislumbrar que, após esse sarau filosófico nada memorável, ele prepare algo à altura para celebrar seus 80 anos.
O HOMEM IRRACIONAL
De Woody Allen
Drama, EUA, 2015, 96min.
Cotação: três estrelas de cinco
Horários e salas (até 2 de setembro)
Cinemark Barra 6 (15h50, 18h10, 20h30)
Espaço Itaú 5 (16h, 18h, 20h, 22h)
GNC Moinhos 2 (14h, 16h, 18h, 20h, 22)
Guion Center 1 (14h30, 16h15, 18h, 19h45)