Tenho saudade da Alice, de sua meiguice, do seu jeito doce de invadir o nosso final de tarde na Redação. Alice é o anjo da Ângela, nossa ex-colega de ZH e agora professora de Jornalismo na ESPM. A menina está com oito anos. Quando nos visitava regularmente, aos sete, quase sempre era saudada por este escriba com um comentário lógico, embora pouco criativo:
- Chegou a moça do país das maravilhas!
Ela só sorria. Já devia ter ouvido trocentas vezes que seu nome evoca o livro célebre. Não sei se seus pais fizeram a escolha por causa da história do Chapeleiro Maluco ou em homenagem a alguma avó, mas provavelmente essa senhora ou alguma outra da família tenha sido batizada sob inspiração da obra do britânico Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido pelo pseudônimo Lewis Carroll. A publicação original, que virou filme, desenho animado e outros livros, está completando 150 anos por estes dias e recebendo merecida reverência em todo o mundo.
A personagem central da narrativa enigmática é exatamente a menina Alice, curiosa, valente e voluntariosa, que desafia o desconhecido e alcança seus objetivos utilizando a integridade como arma. Por isso a heroína da história, que foi inspirada numa Alice real, gerou tantas outras Alices - como explica brilhantemente a psicanalista Diana Corso, em artigo que está sendo publicado na edição dominical deste jornal e que, na condição de editor, tive o privilégio de ler em primeira mão.
De onde se conclui que nem todas as Alices se chamam Alice. Muitas mulheres (todas, talvez) têm algo da menina corajosa e questionadora, que enfrenta obstáculos com determinação e não se cala diante do arbítrio. O país das Alices é o gênero feminino, encantador e misterioso.
Na última vez que esteve por aqui - já contei uma vez -, a nossa pequena Alice tocou violino para seus amigos adultos e deixou na sala onde trabalho os sons de sua música infantil e do seu riso puro.
Como não ter saudade? A professora Ângela está nos devendo essa visita.