Três gerações de uma família judia estarão em cena na peça Língua Mãe - Mameloschn, que estreia nesta terça-feira (23/6), no Auditório do Instituto Goethe, em Porto Alegre, depois de uma pré-estreia no 10º Festival Palco Giratório Sesc/POA, em maio. A temporada será intensa, com sessões todos os dias, até a terça-feira da semana que vem.
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O espetáculo mostra o acerto de contas de Lin (vivida por Ida Celina), a filha Clara (Mirna Spritzer) e a neta Raquel (Valquiria Cardoso) com questões de pertencimento e maternidade. Completa a trama o personagem Davi, irmão de Raquel, que mora em um kibutz em Israel.
No texto original da jovem dramaturga alemã (nascida na Rússia) Marianna Salzmann (leia entrevista com a autora), Davi é apenas referido, mas, nesta versão da Ato Cia. Cênica, dirigida por Mirah Laline, é materializado em cena pelo ator Philipe Philippsen, também responsável pela trilha sonora, executada ao vivo no acordeom.
Assista a trecho de ensaio da peça e depoimento da diretora:
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Lin, a personagem de Ida, é inspirada na vida de Lin Jaldati, cantora holandesa de música iídiche (língua falada pelos judeus do Leste Europeu) que sobreviveu a campos de concentração nazistas e depois se mudou para a Alemanha Oriental. Assim como a Lin de verdade, a personagem da peça tem um histórico de militância de esquerda. Encontra mais afinidade com a neta do que com a filha, com a qual protagoniza verdadeiros embates. Ida observa:
- Lin não é uma avó de comercial de margarina. É dinâmica, tem uma esperança e uma jovialidade que a própria filha não tem. O espírito revolucionário permanece nela.
Já Clara, entre os papéis de filha e de mãe, vê seu chão emocional estremecer no decorrer da trama, como conta Mirna:
- Ela não quer pertencer a nada a que sua mãe pertença. Esse terremoto pessoal faz com que ela tenha que encarar a si mesma.
Em meio a esse tour de force pelos fantasmas familiares, a neta Raquel planeja se mudar para Nova York em busca de um lugar no mundo:
- A Raquel quer descobrir o que a toca de verdade, sem a obrigação de cumprir o papel que a família espera dela - explica Valquiria.
Durante os ensaios, Mirna foi uma espécie de consultora informal sobre assuntos judaicos por causa de sua ascendência, respondendo a dúvidas sobre o que é kashrut (resposta: são as leis dietéticas judaicas), entre outras.
- Identifiquei-me com muitos aspectos da peça, pois sempre senti um elo forte com minha mãe e minha filha. É um outro olhar sobre o judaísmo, que pra mim sempre foi uma raiz muito forte. Sou uma mulher do Bom Fim.
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Este é o primeiro ano em que a Ato Cia. Cênica reliza trabalhos fora do âmbito acadêmico - também em maio, eles estrearam o espetáculo de teatro de rua #7xBeckett. É o mesmo grupo responsável pela ótima peça O Feio, nascida no Departamento de Arte Dramática da UFRGS, que ganhou dois troféus no Prêmio Açorianos de 2012 (melhor espetáculo e melhor ator coadjuvante para Paulo Roberto Farias). Mirah, a diretora, encontra afinidades entre os espetáculos:
- Tanto em O Feio quanto em Mameloschn, há uma busca pelo minimalismo. Nos interessa como poucos elementos podem se transformar em cena. O Mauricio (Casiraghi, integrante da companhia) traz a pesquisa com vídeo, e eu busco o trabalho de atuação.
Em setembro, Mirah vai se mudar para a Alemanha, onde estudará direção teatral. Na sua ausência, garante a continuidade da companhia e do espetáculo. Língua Mãe - Mameloschn já está escalada para integrar a programação local do 22º Porto Alegre Em Cena, também em setembro.
Língua Mãe - Mameloschn
De 23 a 30 de junho, todos os dias, às 20h.
Auditório do Instituto Goethe (Rua 24 de Outubro, 112, fone (51) 2118-7800, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 20. À venda no local, uma hora antes de cada sessão. Desconto de 50% para estudantes, maiores de 60 anos, integrantes da classe artística e alunos do Instituto Goethe.