Dentista de formação e letrista de mão cheia, Sérgio Carvalho Pereira é um parceiro de Luiz Marenco desde a década de 1980, antes deste último se tornar um dos principais intérpretes do regionalismo gaúcho.
- O Sérgio tinha uma banda naquela época. Apresentou-se com ela no bar Tertúlia, no Cassino (em Rio Grande), onde eu trabalhava como garçom. Nos demos bem na hora - conta o cantor, sobre aquele que apresenta como seu "primeiro parceiro na música".
Mais de 30 anos e 20 discos depois, Luiz Marenco lança nesta terça-feira, no Theatro São Pedro, o grande projeto dessa parceria. Sul é um conjunto formado por 14 canções e uma série de poemas e fotografias (assinadas por Pereira) que versam sobre a lida campeira e o espaço habitado pelo gaúcho. Ganhou forma em um CD, que custa R$ 25 e traz um livreto sobre o projeto, e em um livro-álbum, que tem o disco encartado e estará à venda, nos próximos dias, a R$ 70. Nada de versões online: Sul é uma produção independente concebida apenas nesses dois formatos, para serem comercializados nas lojas e nos canais oficiais do cantor (a página do Facebook e o site www.luizmarenco.com.br). Nota a lamentar, se você é fã e só está sabendo do show a partir desta reportagem: todos os ingressos, inclusive um lote extra de cadeiras, estão esgotados desde a semana retrasada.
Não é esse apelo popular, no entanto, que justifica o lançamento de um projeto de música regionalista no palco mais nobre da Capital: pelos arranjos caprichados, pela capacidade reflexiva, pelo sentido de permanência, Sul é daqueles exemplares que afirmam o caráter elevado do gênero.
- Cabe música regional no CTG, no ginásio e no teatro. Faço shows de vários tipos, para o público dançar e também para ouvir sentado. Sul é este último caso - explica Marenco.
O cantor e seu parceiro compositor são discípulos do pajador Jayme Caetano Braun (1924 - 1999), um craque do time que pôs o regionalismo local nos rincões habitados pela alta cultura. Marenco dedicou seu primeiro LP a Braun (em 1988) e fez dele um de seus autores preferidos no desenrolar da carreira. É ao pajador que dedica as canções do disco, particularmente Amadrinhador.
- O Jayme foi o "amadrinhador" meu e do Sérgio - justifica, definindo em seguida o termo a partir de verbos como "apadrinhar" e "proteger".
Das 14 músicas, Amadrinhador e Menina, Escuta teu Cantor são conhecidas de festivais nativistas - mas nunca haviam sido gravadas por Marenco. Estrelas de Chão, Funeral de Coxilha e Das Precisão pra Viver já haviam sido registradas em disco. As outras nove são inéditas, incluindo a faixa-título e algumas preciosidades, como Gaúcho, que condensa toda a história deste arquétipo a partir de sua rotina comezinha.
- Minha música exalta o gaúcho - diz o intérprete. - Mas nem por isso saio dizendo que se trata de um tipo melhor do que outros - complementa.
Gaúcho é emocionante em grande parte pelo instrumental delicado, incluindo a bela introdução com o violão de Luciano Fagundes e o baixo acústico de Rodrigo Maia - o álbum ainda conta com o acordeom de Aluisio Rockembach (também autor dos arranjos). No show do Theatro São Pedro, Maia será substituído por Douglas Vallejos.
Quem ficou sem ingresso, por enquanto, terá de esperar para vê-los no palco. Não há possibilidade de show extra, garante Marenco, que tem viagem marcada para a manhã seguinte.
- Mas a divulgação de Sul está só começando - avisa o ex-garçom do Cassino, hoje radicado em Santana da Boa Vista. - Os shows dos vários projetos que tenho não param. Em breve teremos novas apresentações - promete.
SUL
De Luiz Marenco
Música regional, 14 faixas, independente. R$ 25 (CD com livreto de 24 páginas) ou R$ 70 (livro de 160 páginas com o CD encartado).
Show único de lançamento nesta terça-feira, às 21h, no Theatro São Pedro. Os ingressos já estão esgotados.