É quase unanimidade entre as produtoras gaúchas de eventos culturais: além de, na prática, não beneficiar estudantes e jovens de baixa renda, a nova lei da meia-entrada vai fazer com que todo mundo pague mais caro pelos ingressos. Isso porque, calculam os empresários, a única forma de se adaptar às novas exigências seria dobrar o que seria o preço original dos bilhetes.
Metade do dobro: produtoras usam artifício para se adequar à meia-entrada
Nova lei deve encarecer ingressos e dificultar vinda de eventos maiores
Controvérsia sobre regulamentação impede que lei decole
Quem traz shows ao Estado parte de uma matemática simples, mas leva em consideração variáveis complexas. Todos os custos - que incluem passagem aérea, diária de hotel, aluguel de equipamentos de som e impostos - não podem superar a renda do evento, que vem basicamente da venda de ingressos. Como a Lei Estadual 14.612 não estabelece um limite para o número de tíquetes com desconto (uma das maiores reivindicações dos empresários), os produtores consideram a maior margem possível para fazer a conta fechar. Alguns estimam que mais ou menos 70% dos pagantes serão estudantes, outros chegam a calcular tudo com base em uma ideia de 100% de estudantes. O que interessa é que tudo isso altera o preço do ingresso cheio, elemento central da equação.
- A lei é burra, porque a conta não fecha. Se liberar a meia-entrada para a capacidade total da casa, não tem como fazer uma conta que não seja de 100% dos ingressos custando a metade. E isso torna o ingresso muito caro para quem não é estudante. Se o desconto fosse só no setor mais barato e para 40% da capacidade, nós já temos uma conta feita, e o aumento no preço seria de 30%. No fim, o que era para ser uma lei em benefício do estudante acaba não funcionando - avalia Claudio Favero, diretor da Opinião Produtora.
Em 10 anos, preço de ingressos para shows subiu 2,5 vezes mais que a inflação
Com a palavra, as produtoras: como é calculado o preço de um ingresso?
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Não é só Favero. Todos os produtores ouvidos pela reportagem acham que faltou diálogo no processo de redação da lei. Se houvesse discussão, garantem, não haveria tantos problemas.
Além do aumento dos preços, os empresários avaliam que a frequência de eventos em Porto Alegre pode diminuir. É indiscutível que, na última década, aumentou consideravelmente o ritmo de bons shows na Capital. Gustavo Sirotsky, especialista de entretenimento da Engage Eventos, vê esse fluxo diminuir nos próximos anos, caso a lei vingue sem sofrer alterações.
- Porto Alegre entrou no circuito de shows internacionais no Brasil há algum tempo. Como as coisas estão, pode ser que a gente tenha menos shows, sim.
Autor da lei diz que atitude é blefe das produtoras
Carrion, autor da lei, discorda das produtoras e garante que houve possibilidade de discussão. Diz que a lei tramitou por anos, que houve comissões em que o assunto foi tratado à exaustão e que tudo era aberto à população. Se não foi discutida, diz ele, os empresários é que não quiseram:
- Fico estupefato. Uma lei não é aprovada sem ampla discussão em todas as comissões, nada tramita secretamente. Essa posição (das produtoras) é totalmente obscurantista e reacionária, me parece um blefe para tentar impedir uma lei progressista. Acho que eles vão dar com os burros n'água.