Destaque da produção independente dos EUA na temporada, Cala a Boca, Philip ganhou uma chance no circuito porto-alegrense. A partir desta quinta-feira, o terceiro longa de Alex Ross Perry (de O Círculo Cromático) está em exibição na Cinemateca Paulo Amorim. Chega turbinado por elogios de parte da crítica norte-americana e prêmios em festivais como o de Locarno. A única coisa indiscutível no filme, contudo, é a boa performance de Elisabeth Moss (a Peggy de Mad Men), que interpreta uma fotógrafa que precisa aguentar a inconstância do protagonista, seu namorado Philip (Jason Schwartzman).
Schwartzman é conhecido pelos longas de Wes Anderson, mas Cala a Boca, Philip lembra mais as obras de Woody Allen e Charlie Kaufman. Com diferenças significativas: é menos inspirado do que o primeiro e menos imaginativo na comparação com o segundo.
Philip é um escritor em crise. Imaturo e egoísta, vive um momento de perturbação, devido, sobretudo, à demora na publicação de um novo romance. Vislumbra uma oportunidade de se encontrar quando um autor que ele idolatra (vivido por Jonathan Pryce) revela entusiasmo com seu trabalho e oferece sua casa de campo para ele passar um tempo, concentrar-se mais e, consequentemente, produzir melhor.
Ross Perry captou com argúcia algumas características geracionais de seu protagonista. Há, nos passos inseguros de Philip, muito das sensações de deslocamento e eterna insatisfação que afetam tantos jovens adultos. Ele tem comportamento ético, socialmente consciente e politicamente correto (anda de bicicleta, resiste ao assédio de uma fã, interpretada pela linda Dree Hemingway). Ao mesmo tempo, atrapalha-se em compreender os próprios anseios, especialmente no que diz respeito a relacionamentos. É aí que cresce o desempenho de Elisabeth Moss, que transforma um longo close pós-briga em uma das melhores imagens de Cala a Boca, Philip - seu rosto triste e sua alma ferida levam o espectador a reprovar os atos do protagonista, repetindo mentalmente o título que o filme recebeu no Brasil.
Outras mulheres cruzam a sua vida - a filha do autor que o hospeda (Krysten Ritter) e uma colega da universidade onde ele dará aulas (Joséphine de La Baume). Entendemos perfeitamente o que Philip sente diante de todas e de tudo o mais ao seu redor: um narrador faz observações detalhadas sobre o que cada pessoa em cena está pensando. Isso estraga algumas surpresas e enfraquece alguns diálogos. E exige um tanto a mais dos atores, que precisam expressar algo além do que o público já sabe. Dessa tarefa Schwartzman não dá conta.
Ross Perry queria um Philip cheio de defeitos. Conseguiu. Mas também criou um personagem sem graça e empatia.
Cala a Boca, Philip
(Listen Up Philip)
De Alex Ross Perry
Drama, EUA, 2014, 108min, 12 anos.
Em cartaz em sessões diárias na Cinemateca Paulo Amorim.
Cotação: 2 estrelas (de 5).