Desde o tempo da escravatura no Brasil, os negros buscaram expressar seu sofrimento em forma de arte. O canto e a dança eram manifestações comuns de uma criatividade reservada e, muitas vezes, malvista - status que demorou a mudar após o esvaziamento das senzalas. Mas a discriminação não freou o motor criativo dos libertos, e o século 20 viu toda uma etnia usando o dia a dia como matéria prima para sua arte.
E é para celebrar, valorizar e dar visibilidade a essas artes e artistas, que o Ará Dudu - Coletivo de Arte e Cultura Negra e o pela Comunidade de Terreiro Ilê Axé Ossanha Agué realizarão, de quinta-feira até domingo, o 3º Festival Municipal de Artes Negras (Fesman). O tema do evento é "Em Todos os Lugares, Corpos Negros em Evidência".
O evento será aberto na quinta-feira, às 20h, no Auditório do CCSH, com o lançamento de Dona Lila: Uma Senhora de Oxum. O documentário, dirigido por Kamyla Claudino Belli e Diego Tafarel, reconta a história da ialorixá de Maurilha Gonçalves Flores (1902-1988) que, nos primeiros anos dos século 20, já tinha postura identificada com ideais feministas. Mas a maior parte da programação será no sábado, concentrada no Largo da Gare. Das 14h às 23h, o espaço vai sediar rodas de conversa, shows, exposições, apresentações de teatro, música e dança, mostras de religiosidade e gastronomia.
Artistas em busca de espaços
Conforme a professora Marta Nunes, uma das coordenadoras do evento junto com Nei D'Ogum - a extensa programação é resultado da mobilização do coletivo, fundado em março.
- O Ará Dudu tem o fundamento ativista, fala das questões de identidade de raça, mas o objetivo é trabalhar arte e cultura. Ele surgiu porque vimos que a cidade tinha pessoas trabalhando com artes cênicas, visuais, música e dança, mas que estavam dispersas. Tanta gente que só com o nosso pessoal do coletivo, poderíamos prever a programação de dois dias de evento - diz Marta.
Mas vem gente de fora. Artistas de cidades como Canoas, Alvorada, Porto Alegre, Restinga Seca, Santa Cruz do Sul e até de Santa Catarina aportarão aqui - e pelo que sugere a articulação criada via redes sociais, na edição do ano que vem, virão muitos mais.
- Depois de termos a programação fechada surgiram mais pessoas querendo participar apresentando suas manifestações culturais. Deu para perceber que falta um espaço de manifestação da cultura negra, não apenas em Santa Maria, mas no Estado - conclui Marta.
Os artistas que pedem passagem convidam: prestigie, conheça e incentive a arte negra.
- A qualidade das manifestações artísticas supera o amadorismo. Seria bacana que os órgãos de fomento e empresas, incentivassem mais essas atividades - diz Marta.