Os participantes do Festival de Música Antiga de Boston devem ter ficado arrepiados em 2003 com aquela que, acredita-se, tenha sido a primeira performance em pelo menos 250 anos de uma pérola da ópera: A Bela e Fiel Ariadne, do compositor barroco alemão Johann Georg Conradi (1645 - 1699), com libreto de Christian Heinrich Postel. Estreada em 1691, em Hamburgo, a partitura foi recuperada apenas nos anos 1970 pelo pesquisador George Buelow, que descobriu um manuscrito na Biblioteca do Congresso, em Washington. Atribuía-se a autoria da ópera, equivocadamente, a Reinhard Keiser (1674 - 1739).
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Foi pesquisando sobre Keiser que a professora de Música da UFRGS Lucia Carpena travou contato com Ariadne. Ela compartilha com Silvana Scarinci a direção geral de uma montagem da ópera de Conradi - a única que se conhece das nove que ele compôs - com récitas desta sexta-feira (26/6) a domingo (28/6), no Auditorium Tasso Corrêa do Instituto de Artes da UFRGS, em Porto Alegre, com entrada franca. É a terceira ópera levada ao palco por professores e alunos da universidade gaúcha (antes, vieram Dido e Eneias, de Purcell, em 2012, e Orfeu, de Monteverdi, em 2013), desta vez em parceria com a Universidade Federal do Paraná. A ópera já foi apresentada, neste mês, em Curitiba, onde Lucia e Silvana haviam dirigido outra versão em 2014.
A trama recupera o mito grego de Ariadne (vivida por Marcia Kaiser), filha de Minos (Thiago Montero) e Pasifê (Ana Luisa Vargas) e apaixonada por Teseu (Marcos Liesenberg), que por sua vez só tem olhos para a irmã de Ariadne, Fedra (Ariadne Melchioretto). Só que Ariadne tem algo que interessa a Teseu: a chave para percorrer o labirinto e matar o Minotauro. Quem atravessa o caminho de Ariadne é Evantes (Daniele Oliveira), na verdade Baco disfarçado de mortal. Também aparece na trama Panfílio (Sidney Gomes), personagem cômico recorrente nas óperas de Hamburgo da época.
Assista a um trecho do ensaio de A Bela e Fiel Ariadne:
A música de Conradi foi um exemplo do que se convencionou chamar de "estilo dos gostos reunidos", com influências das tradições francesa, italiana e alemã. O compositor havia estudado em Paris com Jean-Baptiste Lully (1632 - 1687), então um nome influente na Europa, cuja obra traduzia a suntuosidade da corte de Luís 14. Lucia explica:
- Hamburgo foi um cadinho dessa experiência multicultural, embora este termo seja anacrônico. Havia uma mobilidade de informações parecida com a que temos hoje. Todos queriam estar atualizados com a última tendência.
Ariadne será apresentada em uma performance historicamente orientada, ou seja, reproduzindo a sonoridade barroca, com 18 músicos que tocam réplicas de instrumentos da época, como teorba (instrumento de cordas). Diego Schuck Biasibetti regerá os músicos sentado ao cravo, também um costume barroco.
Já a encenação, assinada por Camila Bauer, será atualizada com referências contemporâneas que estarão presentes do figurino ao cenário composto pelos vídeos de Alfredo Nicolaiewsky. Camila observa:
- Procuramos fazer a encenação como se a história se passasse hoje, pois o mito ainda é superpotente. É como se a trama ocorresse em uma Alemanha muito fria que começa a ficar quente com a chegada do herói Teseu.
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A BELA E FIEL ARIADNE
Nesta sexta-feira (26/6) e sábado (27/6), às 20h, e domingo (28/6), às 11h. Duração: 100 minutos.
Auditorium Tasso Corrêa do Instituto de Artes da UFRGS (Rua Senhor dos Passos, 248), em Porto Alegre.
Entrada franca, com retirada de senhas no local, uma hora antes de cada sessão.
A ópera será apresentada em alemão, com legendas em português.
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Fábio Prikladnicki
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