A professora Tânia Rösing, idealizadora da Jornada de Literatura de Passo Fundo, não está mais na coordenação do projeto que liderou por 34 anos. O anúncio foi feito por ela na tarde deste domingo (leia o comunicado completo abaixo).
Procurada por ZH, a professora afirmou que foi afastada da organização pela UPF, por ter divulgado à imprensa o cancelamento da 16ª edição do evento antes do que a universidade havia programado.
- Fiz o anúncio em respeito aos escritores e a todos as outras pessoas envolvidas na Jornada, mas a declaração foi considerada despropositada pelos dirigentes da universidade - afirmou Tânia, por telefone.
Autores falam sobre o cancelamento da Jornada de Passo Fundo
Apesar de estar fora da Jornada, Tânia segue no quadro funcional da universidade, onde trabalha há 44 anos. Ela se mostra disposta a voltar para a organização nas próximas edições do evento literário.
- Enquanto estiver na universidade, jamais deixarei de trabalhar e ajudar quando for solicitada. Mas esta uma decisão (de ser solicitada) diz respeito à universidade - disse a professora.
A assessoria de imprensa da UPF afirmou que a universidade deverá se manifestar sobre o tema a partir da segunda-feira.
Escritores se mobilizam para evitar cancelamento da Jornada de Passo Fundo
A iniciativa do psicanalista Mário Corso e do escritor Fabrício Carpinejar em promover um crowdfunding para arrecadar fundos para a Jornada foi elogiada por Tânia, embora ela não acredite que a edição de 2015 ainda possa ocorrer:
- É uma ação maravilhosa, assim como outras que ocorreram depois do anúncio do cancelamento. São projetos que devem estar sintonizadas, para que seja possível trabalhar em grupo, pensando nas próximas edições.
Leia o comunicado de Tânia Rösing:
Minhas palavras são de agradecimento aos escritores, aos artistas, aos pesquisadores, às lideranças de associações, a acadêmicos literários, às editoras, às organizações de defesa do livro e da leitura, aos empresários, às lideranças políticas, aos leitores, e, em especial, aos representantes dos diferentes órgãos de imprensa, a todos que manifestaram apoio à continuidade das Jornadas Literárias após o anúncio do cancelamento da 16ª edição. Certamente cada manifestação não apenas se constituiu como defesa do grande projeto, mas como reconhecimento ao trabalho das diferentes equipes que ao longo de mais de três décadas pensaram e realizaram as diferentes ações sob minha liderança e têm se comprometido com a continuidade de seus desdobramentos. A luta pela formação de leitores num país como o Brasil não é fácil, mas necessária e desafiadora.
As Jornadas Literárias constituíram-se, nesses 34 anos, numa movimentação cultural permanente, proposta por mim, com apoio do inesquecível escritor Josué Guimarães, a dirigentes, professores e alunos da Universidade de Passo Fundo, espaço apropriado para discutir o embasamento teórico de ações realizadas na dimensão do ensino-pesquisa-extensão sintonizados. E ainda, para desafiar a realização de práticas leitoras interdisciplinares e multimidiais, aproximando educação-cultura-tecnologia. Fundamentadas nesses princípios e com apoio da Lei de Incentivo à Cultura/RS e da Lei Rouanet pela participação de empresas de diferentes segmentos, as Jornadas Literárias de Passo Fundo assumiram um perfil mais do que democrático, celebrando escritores consagrados, escritores em processo de consolidação de suas obras, vozes de diferentes comunidades. Ao mesmo tempo, oportunizou a leitores experientes, a leitores em processo de formação, a não-leitores encontros de envolvimento com o livro, encontros de discussão presencial om seus autores. Ampliou, desse modo, o conceito de leitura ao desenvolver ações com o objetivo de formar distintos públicos para que possam apreciar e valorizar manifestações artístico- culturais de diferentes naturezas. Nessa trajetória, sem dúvida, merece destaque o apoio significativo da Prefeitura Municipal.
Cancelada por falta de apoio financeiro de diferentes segmentos no âmbito de um país cuja conjuntura econômica apresenta um quadro de instabilidade, é preciso salientar que não participei diretamente do processo de captação de recursos para a sua viabilização, ficando essa tarefa a cargo de outros profissionais da UPF. Com o sentimento de que tudo precisa ser revisto, avaliado, recriado, ou mesmo reinventado, participei não apenas do processo de seleção da empresa que recentemente concluiu seus estudos sobre o desempenho das Jornadas, como dos encontros que apontaram questões a serem observadas na criação de um novo formato.
Com o objetivo de não criar dificuldades para a continuidade das Jornadas, meu afastamento da coordenação não implicará deixar de contribuir com o grupo que estará à frente das discussões relativas ao seu futuro. Destaco que a autoria desse projeto não pertence apenas a mim, mas a todos que contribuíram com sugestões para o seu aprimoramento na perspectiva da grandiosidade que o tema leitura e formação do leitor exigem. As Jornadas cresceram, aprimoraram-se, tornaram-se grandiosas pelo zelo com que as diferentes equipes sob minha coordenação trataram sua continuidade, por seus desdobramentos como movimentação cultural, sendo reconhecida pela diferença que concedeu ao processo de formação de leitores e à celebração dos escritores e dos artistas.
Reitero, pois, meu agradecimento, lembrando que a história das Jornadas e de suas conquistas encontram-se registradas na mídia, nos anais da Jornada, em publicações de natureza científica, estando disponíveis aos interessados em aprofundar suas reflexões sobre a complexidade dessa movimentação cultural.