A lenda do blues B.B. King, que morreu aos 89 anos em Las Vegas, se apresentou na capital gaúcha em três oportunidades: 1986, 1995 e 1998. Os dois primeiros shows do cantor e guitarrista foram no Gigantinho, enquanto a terceira vez que ele subiu ao palco em Porto Alegre foi no estacionamento coberto do Dado Bier. Relembre abaixo como foram essas apresentações e o que Zero Hora publicou a respeito:
8 de julho de 1986
Coluna de Gasparotto
* matéria e coluna publicadas em 10/07/1986
17 de novembro de 1995, por Renato Mendonça
Quem entrasse no Gigantinho, perto da meia-noite de sexta, veria um senhor negro, gordo, usando um vistoso casaco dourado e jogando palhetas de cima do palco para serem disputadas pelo público. Se Roberto Carlos divide flores com sua platéia, o guitarrista B.B. King oferece a sua ferramenta de trabalho como se passasse uma hóstia.
O músico americano, 70 anos completados em 16 de setembro, uma vez afirmou que não se importava que o chamassem de músico de blues, ao menos enquanto ele estivesse cantando afinado.
Foi nessa expectativa que a maioria das mais de 2 mil pessoas chegaram ao Gigantinho. Estaria na hora de transferir o cetro, já que a guitarra Lucille de B. B. King é intransferível? Seus sete músicos entraram no palco às 21h35min, tentando aquecer a platéia com 15 minutos de solos dispensáveis. Ainda bem que o público já chegara quente. Então, só faltaram trombetas para acompanhar a entronização de Mr. B. B. King. O Blues Boy do Mississippi abriu convidando: Let the Good Times Roll (traduzindo livremente, "deixa a festa rolar"). E avisou: "Hey, everybody, B.B. is in town!''
A festa teve quase 20 músicas, todas com espaço para solos do rei do blues e sua banda. A corte já foi melhor. Excetuando-se alguns solos do trumpetista James Bolden e do saxofonista Walter King, irmão de B.B., parecem vassalos inábeis tentando não errar muito. As duas baterias no palco, com Calep Emphrey Jr. e Tony Coleman, tornam o blues mais coxudo, mais consistente para as amplidões dos ginásios. Acima da idade e da limitação de seus companheiros, no entanto, pairava altaneiro B. B. King.
Mesmo não oferecendo o plus de trocar uma corda de seu instrumento sem parar de tocar, ele continua dialogando com Lucille, depois de 46 anos de casamento. Quando terminou de cantar If You've Been Mistreated, os súditos começaram a gritar seu nome em palco aberto. Às 22h40min, o rei pediu uma cadeira e muita água. Ganhou também aplausos.
Atacou com Everybody Wants to Know Why I Sing the Blues e Rock me Baby para perguntar se havia alguém cansado. Nos últimos 10 minutos de show, o criador de The Thrill Is Gone se levanta para beijar sua guitarra e receber um bolo de aniversário no palco, enquanto uma champanha era aberta. B. B. perdeu um pouco da voz de tenor mas não a majestade. Neste momento, certamente não lhe ocorreu a discriminação que sentiu por parte dos próprios músicos por cantar e tocar o blues, e não jazz ou spirituals. "Era como ser duas vezes negro'', comentava.
* Matéria publicada em 19/11/1995
Mito
Relembre os shows de B.B. King em Porto Alegre
Lenda do blues, que morreu aos 89 anos na noite de quinta, se apresentou três vezes na capital gaúcha
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