Absorvido pela leitura de Graça Infinita, do David Foster, demorei para ler A Nova República. A Folha publicou uma crítica demolidora sobre o romance. Não acreditei em uma linha sequer do que li. Ainda bem. Lionel Schriver, a autora, é ótima, e o livro só confirma isso.
Focado nas ações de um grupo terrorista e escrito antes do 11 de Setembro, sua publicação ficou na geladeira, primeiro porque nenhuma editora à época se interessou e, depois, porque a autora não quis pegar carona na tragédia americana. Schriver, ela mesma uma atuante resenhista no The Guardian inglês, vai fundo em suas considerações sobre crítica jornalística.
Crítica é difícil de fazer e difícil de digerir. Exige preparo e honestidade intelectual. Não pleiteio e não gosto de tapinhas nas costas, benevolência ou elogios caridosos - para artista nenhum. Mas não aceito a usual confusão entre rigor e falta de educação. Quando Paulo Francis arrasou Susan Sontag por ter montado o Esperando Godot de Beckett em Saravejo, deixei de lê-lo. Sontag pedia ajuda internacional para uma cidade sem voz, cercada pelo exército sérvio de 1992 a 1996. Era a peça certa, na hora e no lugar certos. Francis e seus desaforos ultrapassaram o limite ético dos meros juízos de valor.
Barbara Heliodora, hoje incensada, muitas vezes enfiou o pé na jaca. O que Fernanda Montenegro escreveu sobre a amiga da vida inteira não esqueceu isso. A atriz revela argúcia ao afirmar que críticos tendem à benevolência com espetáculos despretensiosos e ao excesso quando a criação artística se mostra ambiciosa.
Juarez Fonseca é meu modelo de crítico ideal. Sem arrogância ou paternalismo, não deixa de apontar o que precisa ser apontado. Mas dá foco e perspectiva ao produto cultural analisado - como tem de ser. Uma coisa é o que se diz, outra é como se diz. Aí é que a porca torce o rabo. A função da crítica é essa: saber dizer o que precisa ser dito. Destempero no jornal me parece matéria pra consultório de psicanalista. Só isso.