VÍDEO: críticos de cinema de ZH comentam Estrada 47
A participação do Brasil na II Guerra Mundial é um capítulo que, passados 70 anos, mostra-se cada vez mais rarefeito na história e na memória coletiva do país. Reavivar esse episódio ao mesmo tempo quixotesco, dramático e heroico, protagonizado por uma nação subdesenvolvida que fez uma digna figuração entre as grandes potências no mais importante conflito do século 20, foi um projeto acalentado por anos pelo diretor carioca Vicente Ferraz.
Em A Estrada 47, filme que estreia nesta quinta-feira em Porto Alegre, Ferraz materializa, com notável empenho técnico e dramatúrgico, as imagens do Brasil em ação no front europeu de uma forma nunca antes ambicionada pelo cinema nacional.
- Sempre li muito sobre a II Guerra e me perguntava por que a participação do Brasil nunca havia sido filmada - disse Ferraz quando apresentou A Estrada 47 no Festival de Gramado de 2014, de onde saiu consagrado com o Kikito de melhor filme. - Eu me interessei em contar a história dos 25 mil brasileiros que cruzaram o Atlântico para combater em condições extremamente adversas, despreparados e sob um frio de até 30°C negativos. Na Europa e nos Estados Unidos, desconhecem essa história, e aqui ela se perdeu no tempo.
Segundo Ferraz, os 21 anos em que o Brasil passou sob ditadura colaboraram para o desinteresse dos cineastas em projetos de ficção que destacassem façanhas militares como a empreendida pelos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira no norte da Itália, entre 1944 e 1945, quando a FEB reforçou as linhas norte-americanas no combate aos alemães para abrir um novo front em direção a Berlim. O maior trunfo da campanha brasileira foi a tomada de Monte Castello, em fevereiro de 1945, após três meses de enfrentamento com os nazistas.
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Ferraz faz uso do pano do fundo histórico para apresentar em A Estrada 47 situações e personagens fictícios. A trama tem como protagonistas integrantes de um pelotão de engenharia de combate da FEB: Guimarães (Daniel de Oliveira), Tenente (Júlio Andrade), Piauí (Francisco Gaspar) e Laurindo (Thogun Teixeira), que, após um ataque de pânico coletivo nos Montes Apeninos, desgarram-se de suas fileiras e encaram um dilema: retornar ao batalhão e correr o risco de uma corte marcial por covardia ou tomar a iniciativa de retirar minas explosivas da tal Estrada 47, fundamental para o avanço dos aliados na região - que é a opção tomada.
Juntam-se a eles na jornada um correspondente de guerra (interpretado pelo ator português Ivo Canelas), um oficial nazista que capturam (o alemão Richard Sammel) e um partigiano que integra a resistência local contra os alemães (o italiano Sergio Rubini).
- Não queria fazer um filme de guerra típico. Minhas referências foram filmes europeus que destacam a dimensão humana na situação-limite que é uma guerra, como o russo Vá e Veja (filme de 1985, de Elem Klimov) - explicou Ferraz. - Entre aqueles pracinhas estavam garotos de todas as regiões do Brasil, com culturas e vivências diferentes, que se viram unidos em uma situação na qual tiveram de se adaptar com rapidez e coragem.
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Com orçamento de R$ 8 milhões e realizado em coprodução com Itália e Portugal, A Estrada 47 foi rodado na região da fronteira italiana com a Áustria, durante o inverno europeu de 2011, em condições semelhantes às enfrentadas pela FEB. A equipe contou com armamentos, equipamentos e uniformes reais obtidos com colecionadores e dois tanques originais M4 Sherman utilizados na II Guerra, emprestados de um museu italiano. O elenco passou por treinamento militar na 12ª Companhia de Engenharia de Combate, em Pindamonhangaba (SP).