Alambrador como ele não se encontrava num simples tropeço de cocuruto ou caraguatá. Por esse motivo, o agrônomo Mauro Costalat, que andava às voltas com eletrificação rural, resolveu apadrinhar Clemente Severo nomeando-o chefe de obras. A eletrificação de aramados era coisa nova. Conhecimento e saber com muitos riscos e rabiscos.
Acontece que um homem de serventia e respeito como Seu Clemente passou a ganhar alcunhas jocosas, ditas por essa gente que engorda os boatos, lastreia maledicências. "Faísca, Ovos Fritos, Ampères e Voltagem" eram alguns dos apelidos que se espalhavam como fogo em palha seca. Estendendo as divisórias entre fatos e relatos, é bom saber o que aconteceu.
Numa manhã em que o vento dançava valsas com o capeta, o homem viveu seu dia de avessos. Foi mijar contra a cerca, apenas isso. A urina estabeleceu o contato, fez-se a cadeia elétrica e um choque o atirou a seis metros de lonjura. Acordou-se entre brancuras hospitalares. A partir daí, entrou numa quarentena de vicissitudes. Por onde passava, acendiam-se as lâmpadas. Não podia tocar em sua mulher, Dona Esmeralda, pois dava choque. Mate com os comparsas, nem cogitar. (Cuia e bomba voavam pelo recinto do galpão.) Na hora dos cumprimentos havia sempre um mal-estar.
O povinho gosta de dar corda nas bisbilhotices... Mas, como "para quem tem fome ou desfeita qualquer costela magra é receita", Seu Clemente Severo terminou dando ouvidos para um tal de Felisbento Amaral. Aconselhava o charlador dar um fio terra pro chefe de obras. Um ser de fibra e postura puxava agora um chumaço de fios de cobre, pendurados na parte traseira do cinturão. Era uma cola de cavalo que pendia até o solo. Dava lástima de ver.
Não fosse o Dr. Costalat voltar da capital, o homem ia seguir fantasiado de montaria, arrastando a cola luminosa qual um rastilho, entre florzinhas do campo e caraguatás. Ficou a lição: não se mija em cercas ou aramados pois numa dessas pode ocorrer um solavanco nos países baixos de um cidadão