Somos bombardeados diariamente com novidades sobre nossos escândalos políticos. O que não nos falta é informação. Qualquer brasileiro, ao abrir o jornal logo cedo, perde paciência e humor. Mas não consigo deixar de ler. Política faz parte da minha cesta básica. Que se punam infratores e culpados. Mas não endosso o coro a favor da criminalização generalizada do setor. Como diretor teatral, foi o teatro político que sempre me interessou.
Mas, afinal, o que é "teatro político"? Certamente não o que trata conteúdos humanistas como panfletos dogmáticos, mas sim o que cria pontes entre tradição e vanguarda, passado e presente, o velho e o novo. Lukács afirma que "o que é verdadeiramente revolucionário na arte é a forma". Joni Mitchell, envelhecida e ainda muito bonita aos 71 anos, ao posar para a campanha da grife Saint Laurent Paris subverte padrões e protagoniza um fato político mais eficaz do que qualquer uma de nossas propagandas partidárias. Textos que unem densos conteúdos a estéticas inovadoras ainda me motivam, 40 anos depois do meu primeiro espetáculo. O "onde queres revólver sou coqueiro" caetânico sintetiza essa postura à perfeição.
Mergulhado na maratona dos ensaios de Crime Woyzeck, durmo pouco e estudo muito. A peça nova mistura dois textos antagônicos e complementares: Crime, de Peter Asmussen, assistente do Lars von Trier, e Woyzeck, do Georg Büchner. Morto aos 23 anos, o autor deixou sua obra-prima incompleta, com cenas fora de ordem, o que dá liberdade para encará-la como um mosaico de cenas violentamente atuais. A voltagem política dos dois textos entrelaçados é evidente.
Estou aproveitando para ler importantes teóricos da cena contemporânea, como Hans-Thies Lehmann e Tércio Redondo. Lehmann, em Escritura Política no Texto Teatral, elogia Walter Benjamin e sua tese de que é terrível que artistas usem a política para criar futilidades desimportantes. Banalidade e teatro são incompatíveis. Quem disse isso foi o Walter Benjamin.