Quatorze anos depois de sua criação, o Guri de Uruguaiana pode ser considerado um dos personagens mais populares surgidos nos palcos gaúchos nos últimos tempos. Mas o fenômeno do simpático gaudério que trata a tradição com muito bom humor vai além. Pode ser medido pelos quase 2,3 milhões de seguidores no perfil oficial no Facebook - mais do que o Grêmio e mais do que o Internacional.
No YouTube, as paródias do Canto Alegretense e outros vídeos somam quase 22 milhões de acessos desde 2009. E no Twitter já são 163 mil fãs. Jair Kobe, 55 anos, o responsável por tudo isso, decidiu virar humorista aos 42, depois de uma bem-sucedida carreira como músico no grupo Canto Livre, que fez história nos anos 1980 e segue em atividade. Com o Guri de Uruguaiana, está em cartaz até o dia 26 em sua já tradicional - e lotada - temporada de abril no Theatro São Pedro, junto com uma equipe de cerca de 40 pessoas, entre técnicos e artistas convidados. Nesta entrevista, concedida em sua casa no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre, Kobe fala sério e explica por que não satiriza a masculinidade do gaúcho, entre outros temas.
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Com algumas modificações, o espetáculo do Guri de Uruguaiana está em cartaz desde 2008. Qual o segredo do sucesso?
Primeiro, para que o espetáculo tenha uma vida longa, tem que funcionar muito o boca a boca. A qualidade tem que ser reconhecida pelo público. Isso vai funcionar a médio e longo prazo. Sobre a questão do tempo (em cartaz), Porto Alegre é muito grande. O Tangos & Tragédias teve 30 anos de sucesso, com temporadas uma vez por ano. O Guri de Uruguaiana tem uma caraterística, que é a atualização. O esqueleto do show é o mesmo, mas sempre tem novidades. Neste ano, cada dia tem um humorista convidado: Diogo Portugal, Nany People, Rafinha Bastos e humoristas locais. Isso além de novidades como as músicas atuais, as paródias que a gente sempre insere no roteiro. Estamos trabalhando em cima de dois clipes: Happy, do Pharrell Williams, e um do Bruno Mars. Como trabalho muito forte com as redes sociais, temos que estar sempre atualizando. Tem a página no Diário Gaúcho, a participação no Pretinho Básico. Então, a temporada no Theatro São Pedro, em abril, é o marco em que acontecem as mudanças. A partir daí, o show segue para o Interior, Santa Catarina e Paraná.
Teu passado na música nativista com o Canto Livre, nos anos 1980, ajudou o público a receber melhor a brincadeira com a figura do gaúcho?
É exatamente essa a questão. Estou credenciado. Na década de 1980, a música nativista saiu dos galpões e foi para as calçadas. Os jovens começaram a compor e cantar música gaúcha. Havia jovens universitários, como eram os integrantes do Canto Livre, porto-alegrenses sem sotaque gaúcho, cantando a música gaúcha com formas de arranjos vocais completamente diferenciados. Foi importante o (Renato) Borghetti, que era uma figura mais para roqueiro do que para instrumentista gaúcho, assim como o surgimento do Neto Fagundes. O Canto Livre foi muito importante. No Unimúsica, projeto na Reitoria da UFRGS, era uma loucura quando o show era do Canto Livre. Lotávamos aquilo com jovens universitários. Muito bacana de ver. Até associo o personagem do Guri de Uruguaiana com a mesma pegada do Canto Livre. É uma maneira de atingir um público que não é necessariamente nativista, não é um púbico que frequenta CTG. Através do humor, (o Guri) consegue falar e mostrar as canções e os costumes, falar das coisas do Rio Grande.
Em 1983, Jair ao violão com o grupo Canto Livre, formado por músicos de Porto Alegre que imprimiram pegada urbana à música regional do Estado.
Quando criaste o Guri, em 2001, já havia outras pessoas satirizando o gaúcho?Eu não diria satirizando. Diria que estou falando de forma bem humorada dos nossos costumes, apontando, por exemplo, aquela mania gaúcha de se refrescar na beira da praia com 45 graus tomando chimarrão (risos). Eu acho que naquela ocasião (em 2001) não tinha esse bairrismo tão acentuado como hoje. Nos demos conta de que falar do bairrismo, da tradição, é um bom negócio. As pessoas gostam. O gaúcho que está fora do Rio Grande, quando vê um conteúdo falando de nossas tradições, valoriza mais ainda. É uma loucura, as pessoas choram, se emocionam mais do que aqui.
Tens quase 2,3 milhões de curtidores no Facebook. Como chegou a esse fenômeno?
É a maior fanpage do Rio Grande do Sul. Desde 2008, estou investindo nas redes sociais. Fui um dos primeiros a investir forte. Hoje, de personalidades gaúchas fora do Rio Grande do Sul, tem o Ronaldinho Gaúcho, a Gisele Bündchen, a Xuxa. Mas no Rio Grande, nem o Grêmio, nem o Internacional têm a quantidade de curtidores que minha página tem.
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Quando percebeste o potencial das redes sociais para alcançar o público?
Era importante eu criar um caminho de conversação. Precisava me encontrar com o público de forma que não dependesse exclusivamente dos meios de comunicação (tradicionais). Queria ter autonomia. Busquei uma parceria (de uma empresa especializada) e disse: "Quero investir nesse segmento". O primeiro clipe foi (uma paródia de) Michael Jackson. Depois, veio Beatles, Village People. Incluímos (nos clipes) artistas conhecidos de outros segmentos que pudessem levar essa informação para o público deles. No dos Beatles tinha Rui Biriva e Daniel Torres. Já no Gurillage People tinha Cris Pereira, Elton Saldanha, Jahmai. Era para respingar nas redes sociais de outros artistas.
O que Nico e Bagre Fagundes, autores do Canto Alegretense, acham das paródias?
O Nico e o Bagre participaram do clipe do Gurinaldo, Amor de Chocolatchê (paródia do cantor Naldo), junto com o Neto Fagundes, que é o maior cantor do Canto Alegretense. Participamos da paródia dos Três Tchênores para o Pretinho Básico. No teatro, o Neto participa comigo sempre que possível. Tem um texto dele no roteiro. É uma poesia dele que cito nos shows. Nosso relacionamento é muito bacana. Assim como eles, acredito que é uma forma de promover a música, com toda essa visibilidade que a gente tem. O carinho que eles têm com o meu trabalho, e eu com o deles, é muito por conta da nossa conversa lá do início. Conheço o Neto Fagundes desde que ele começou, em 1982, 1983, na Ronda da Canção, quando cantamos em Alegrete. Com o Nico, na década de 1980, participávamos muito do Galpão Crioulo.
Nico e Bagre ganham royalties pelas paródias do Canto Alegretense?
Não. Porque não posso monetizar nada no YouTube. Trabalho com a letra do Canto Alegretense em cima de outra melodia. Não ganho um centavo sobre as paródias porque a melodia não nos pertence.
Por falar nisso, obténs renda dos perfis nas redes sociais?
Estamos trabalhando mais focados nisso aí. Agora mesmo, no nosso canal (no YouTube), vamos fazer um trabalho mais diferenciado. Toda terça e quinta vai sair um conteúdo autoral de três minutos, visando a esse trabalho de monetização. Muitas empresas pedem para postar alguma coisa, um post pago no Face. Mas não vale a pena para mim. Estou mais preocupado com a qualidade que vou oferecer para o seguidor do que em ficar colocando propaganda. Para valer a pena, só se fosse uma coisa muito bem remunerada. Não vale ficar colocando postagens comerciais para um público tão grande por um valor pequeno.
O que é um valor pequeno?
Ah, não sei (risos), aí tem que ver. Mas até hoje não surgiu nada interessante para te dizer que vale a pena. Está sendo bastante procurada a exposição em comerciais (na TV), porque o Guri de Uruguaiana tem uma penetração boa em um público muito amplo, desde criança até pessoas de mais idade. Também sou muito criterioso. Há produtos que eu nem analiso. Daí, não tem nem valor (que pague). Imagine um plano de saúde que quebra daqui a seis meses, e eu terei "contribuído" para prejudicar um monte de gente.
Tempo de guri: carteira de estudante da PUCRS em 1980. Kobe cursou três graduações, sem concluí-las: Análise de Sistemas, Música e Ciências Contábeis.
Recusaste um convite para participar do Zorra Total porque te ofereceram o papel de um gaúcho gay. O que achas das piadas sobre a masculinidade do gaúcho?
Quando o Maurício Sherman (então diretor do Zorra) me ligou, eu disse que, se houvesse qualquer conotação nesse sentido, não precisava nem mandar passagem de volta para Porto Alegre, porque eu não poderia voltar nunca mais (risos). (O Guri) não é um personagem criado para isso. Tenho um compromisso muito grande com a cultura gaúcha desde o tempo da música. Vejo muita criança usando bombacha, falando "Mas que barbaridade!" e curtindo as coisas gaúchas por conta do personagem. E, de uma hora para outra, eu vou para a TV, em rede nacional, falar sobre a masculinidade do gaúcho? É uma brincadeira que deixa a gauchada chateada em todo o Brasil. Certa vez, um senhor veio me contar que esteve no Ceará e foi em um show de humor. O artista perguntou quem era de Brasília, quem era mineiro, gaúcho. Quando levantou a mão, dizendo que era gaúcho, serviu de Cristo a noite inteira. Esse senhor de quase 70 anos me disse que, no outro dia, combinou com a esposa de dizer que eram mineiros, caso perguntassem. Quando ouvi essa história, foi um soco que levei. Não acredito que um gaúcho possa ter medo de dizer que é gaúcho por conta dessa brincadeira de extremo mau gosto.
E como foi a história com o Zorra Total?
Em abril de 2011 me convidaram para fazer a gravação. Era uma sexta-feira e não vinha o texto. Eu disse: "Olha, tchê, sem saber o que eu vou fazer, eu não vou". Quando fiquei sabendo que tinha essa conotação (da sátira à masculinidade do gaúcho), eu disse: "Não vou". Aí a guria (da produção do Zorra) disse: "O que eu vou fazer agora? A gravação é na segunda-feira?". Eu disse: "Pega um carioca e fantasia de gaúcho para fazer o papel". E fizeram isso. Passados uns 15 dias, o programa não estava no ar ainda. Nesse meio tempo, o Sherman me ligou. Aí eu fui para o Rio e me reuni com ele e com os redatores do Zorra. A pergunta do Nizo Neto, filho do Chico Anysio, foi: "Jair, vem cá, esse negócio de gaúcho veado é muito antigo!". Eu disse: "Não. Pelotas tem história, com as charqueadas, em que os ricos mandavam seus filhos para a Europa, e eles voltavam comendo de talher, com roupa engomada. E pegou essa brincadeira. Mas o gaúcho veado foi criado dentro da Globo com o Casseta & Planeta". Como eu já sabia que (o programa) estava gravado, disse: "No Casseta & Planeta, que trabalha com o politicamente incorreto, terça-feira à noite, tudo bem. Agora, no Zorra Total, um programa da família brasileira, no sábado depois da novela, não tem cabimento. Vocês estão se afastando cada vez mais dos gaúchos, e gaúcho tem no Brasil inteiro". Deu aqueles 30 segundos de silêncio, e o Sherman bateu na mesa e disse: "Tira esse gaúcho veado do trem!". Pois não é que estreou o programa, e o gaúcho não apareceu? Nos livramos desse estereótipo do gaúcho veado no Zorra Total.
O humor tem limites?
Hoje em dia, está complicado. O patrulhamento é muito grande. O meu humor é livre para todos os públicos, não tem apelo sexual, escatológico, nada. É politicamente correto. O personagem sacaneia a mulher dele, dizendo que é gorda, fala mal do Licurgo (personagem interpretado por Luiz Antonio Dau), reclama da sogra. Mas fica por aí. Tens que trabalhar focado no público que está te assistindo. Se tu estás em uma rede de 50 seguidores, tem um tamanho. Se estás em uma rede de 2,3 milhões, tem muito mais gente para cornetear. Agora, no Dia Internacional da Mulher, colocamos um post e caíram de pau em cima.
O que houve?
O post tinha uma silhueta de mulher, uma foto bonita, e dizia: "Ela assa e ainda faz a salada de maionese". Em oito horas, deu 1,6 mil comentários. Desses, 90% dizendo que era uma posição machista. Depois, a gente postou dizendo que não interpretaram corretamente. Em mais cinco horas, teve mais 1,6 mil comentários, a maioria de mulheres dizendo que quem reclamou não tinha o que fazer na vida. Estavam xingando os que tinham reclamado do post. Pra tu veres como é complicado.
Teve algum outro episódio desse tipo?
Colocamos uma brincadeira dizendo assim: "Parece que dono de supermercado nunca vai a supermercado. Entre mil caixas, só tem três funcionando". Foi uma brincadeira. Mas todo mundo comentou: "Bah parece o lugar tal". Um supermercado tal foi citado direto. Mas não tenho nada a ver com isso. Aí o supermercado, esse, andou comentando, pelo departamento de marketing, que eu tinha que dizer de qual supermercado eu estava falando. Mas quem não quer ser citado de forma negativa tem que prestar um serviço de excelência. Se tu atendes mal o cliente, ele pode na mesma hora postar na internet que foi mal atendido. No show, eu tenho que atender ao público. No final, vou lá tirar foto, ser simpático. Se eu não fizer isso, corro o risco de tomar bola nas costas e falarem mal de mim. Que bom que é assim.
Essa patrulha é maior do que era antes das redes sociais?
Acho que sim. Hoje, a voz do povo é imediata. É bom para o artista. Para quem vai produzir conteúdo, ficou democrático. Tu consegues criar alguma coisa no teu quarto e publicar para o mundo inteiro. Não precisa mais bater na porta de uma emissora para ser contratado. Ao mesmo tempo, tu estás vulnerável. Se eu estiver na rua com meu carro adesivado com o Guri de Uruguaiana e parar na faixa de segurança, estou sujeito a ser fotografado ou filmado. Se tu colocas o dedo no nariz em uma sinaleira, estás sujeito a um cara te fotografar e te escrachar. Esse patrulhamento faz com que tu te corrijas. Vejo pelo lado bacana.
Pelas bandas de Paris, em 2012: em suas viagens a turismo com a família, Kobe sempre leva um kit do Guri de Uruguaiana para produzir fotos e vídeos caracterizado
Tua mulher se incomoda que o Guri chame a mulher dele de gorda e feia?
Não. O mais interessante é que o nome da minha esposa é Sílvia Helena mesmo (assim como o nome da mulher do personagem). Ela cobra royalties porque eu uso o nome dela, então fica tudo certo (risos). Certa vez, fui convidado para participar de um evento, na Assembleia Legislativa, de um deputado (Edegar Pretto, do PT) contra a violência com as mulheres. Entrei meio de paraquedas e comecei a fazer essa brincadeira da Sílvia Helena. Quando me dei por conta, estava fazendo a piada num lugar errado. Minha ligação não é com a política. Se o projeto é bacana e a minha imagem vai contribuir, eu estou dentro. Pode ser o partido A, B, C ou D, desde que não use a minha figura para fazer campanha política.
Já houve algum mal entendido nesse sentido?
Surgiu, no ano passado, uma matéria federal sobre a denúncia de abusos sexuais contra adolescentes na época do Carnaval. Me convidaram para participar de um evento na rodoviária. O assunto era bacana, e eu fui. Daí estou eu lá, ao lado de um monte de políticos, e saiu no jornal uma foto minha ao lado de um deles (a então ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário), distribuindo folhetos. No outro dia, começaram a me cornetear: "Ah, tu estás entregando santinho para a Fulana".
Desde então, tens evitado participar de eventos relacionados à política?
Não evito. Só tenho o cuidado com essa coisa da fotografia para que depois não surja um mal-entendido. Não quero vincular o personagem a político nenhum. Acho que consigo contribuir muito mais ao levar mensagens bacanas.
Em uma entrevista em 2013, me disseste que te sentias preso ao Guri de Uruguaiana e que gostarias de retornar com outros personagens. Como te sentes hoje?
Estou conseguindo fazer agora um outro produto, uma palestra do Jair Kobe, criador do Guri de Uruguaiana. É uma palestra de empreendedorismo que fala de perseverança, foco, planejamento e inovação. São os quatro pilares da minha história de vida. Falo de uma coisa que acho importante: não desistir dos sonhos. Me tornei fotógrafo profissional, com grande êxito, aos 38 anos, sem nunca ter sido fotógrafo antes. Aos 40, me tornei pai (pela primeira vez). E, aos 42, me tornei humorista. Fiquei bem feliz quando soube que o Roberto Bolaños criou o Chaves aos 42 anos também. O Roberto Marinho criou a Globo com 61 anos. Nunca é tarde para conquistar os seus sonhos.
Existe um segmento mais intelectualizado da classe artística que despreza o tipo de humor mais popular do Guri de Uruguaiana?
Com certeza, existe. Meu objetivo é o camarada assistir a um show e sair feliz. Se o cara quer assistir a Shakespeare e sair dali pensando no ser ou não ser, bacana. Tudo tem seu valor. Agora, eu não posso dizer que quem faz esse tipo de teatro mais intelectual não tem valor. Temos que valorizar todos os segmentos. O Guri de Uruguaiana não fala errado, não se veste errado, fala bem da cultura gaúcha, mostra um monte de coisas bacanas. É um espetáculo plástico, com tratamento de luz, de som, equipe gigante. Oportuniza trabalho para mágicos, artistas circenses, bailarinos. Estou feliz de contribuir com esse monte de gente que está aí trabalhando, feliz da vida. Se alguém mais intelectual acha que isso não tem valor, é uma pena. Podem falar mal depois, mas pelo menos assistam. Depois, esperem os espectadores e registrem como saem de lá as pessoas de idade, os jovens, as crianças. Isso tem um valor imenso. Não vou ficar preocupado se algumas pessoas acham que o trabalho do humor é menor do que o drama. Bem pelo contrário: fazer rir não é fácil.
Como vês a situação socioeconômica no Brasil?
Comercialmente falando, tenho sentido que as coisas vêm mudando desde a Copa do Mundo. Este ano começou bem difícil. Já havia percebido, no ano passado, o aumento do desemprego. Em cidades nas quais tu botavas mil pessoas (nos teatros), agora tu botas 800, com o mesmo valor de ingresso. Tem uma diminuição de público, de poder aquisitivo. A pessoa tem que optar: ou paga o valor do ingresso do show ou paga a conta da luz em casa. Outra coisa: essa série de escândalos deixa desacreditada a classe política. O povo quer ver alguém tomar alguma decisão. Mas não acredito nessas manifestações de impeachment. Para falar em impeachment, tem que ter alguma coisa, um fato que te permitas falar sobre isso. Não temos qualquer fato. Tem suposições, mas nada de concreto. Eu aposto é na punição desse escândalo agora (Operação Lava-Jato). Junto com essa punição, tem que haver uma política mais clara, que a gente vislumbre a médio prazo uma luz no fim do túnel. Mas uma luz que não seja a de uma locomotiva vindo contra nós (risos).
A crise pode ser matéria-prima para o humor?
O humor do Guri de Uruguaiana não é voltado para essas questões. Optei por não trabalhar no Facebook, por exemplo, a questão da passeata do dia 15 de março. Acho que eu não tinha compromisso de dar palpite sobre isso. Podem dizer: "Ah, mas isso é ficar em cima do muro!" Mas não posso misturar o Jair com o Guri. O Guri está preocupado com outras coisas: com a gordura da mulher dele; com o Licurgo, que não trouxe o mate...
E o Jair saiu ou sairia à rua no dia 13 ou dia 15 de março?
Eu estava trabalhando em Frederico Westphalen no dia 15. Minhas filhas e minha esposa saíram, deram uma circulada, como todo brasileiro que no dia 15 foi para a rua. Mas não é aquele engajamento de levantar bandeira, que nem eu já fiz em outros tempos. Tu vais ficando tão descrente que não levantas mais bandeira para ninguém. Não tem mais cor de bandeira que me pegue.
Conseguiste enriquecer com o Guri de Uruguaiana?
Sou privilegiado. Tenho hoje um trabalho muito intenso, uma visibilidade muito grande. Eu realmente consigo ter uma vida boa com minhas filhas. Procuro fazer, todo ano, uma viagem de uns 12 dias com a família ou apenas com a Sílvia. Levo uma vida bem tranquila nesse sentido financeiro. Mas é muito trabalho, tenho um compromisso muito grande com muita gente. Isso me deixa preocupado em fazer muitos shows todo mês para poder honrar todos os compromissos.
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