Separar o criador, Carlos Henrique Iotti, da criatura, Radicci, talvez não seja uma tarefa fácil para o seu leitor. Mas quem conhece bem as figuras sabe que o jornalista e cartunista é muito mais urbano que o seu personagem, apesar da mesma descendência italiana. Iotti, que nasceu em Caxias do Sul e já morou em Porto Alegre, nunca chegou a viver no interior. Mas, em qualquer lugar que vai, dá de cara com um "gringo".
Tudo o que você precisa saber sobre a Feira do Livro
- Foi simples criar o personagem, porque não há um lugar no mundo onde não tenha um italiano - conta.
Foi assim, inspirado na caricatura do italiano que chegou ao Sul do Brasil, e criando um contraponto divertido à mística do colono trabalhador, que surgiu Radicci: beberrão, grosso, bonachão e preguiçoso.
25 mil passaram pela Feira do Livro de Santa Maria
O pai de Radicci é a atração desta segunda-feira na Feira do Livro de Santa Maria. Além de bater papo com os leitores, ele lançará, oficialmente o Gibizón do Radicci, que reúne, em 90 páginas, centenas de tiras do personagem. O "Diário 2" conversou com o cartunista por telefone. Confira trechos da entrevista:
Confira as atrações infantis desta primeira semana de feira
Diário 2 - O Radicci nasceu em 1983. Como foi dar vida a ele, e como é mantê-lo?
Iotti - Esse é o grande drama que eu passo: fazer uma história nova todo o dia. Nesse momento em que atendi ao telefone, estava tentando inventar alguma. A criação do Radicci foi relativamente fácil, porque, como moro em Caxias, a inspiração está por todos os lados. Não há um lugar no mundo onde não tenha um italiano. A criação dele não foi tão difícil quanto a sua manutenção. Eu vou numa colônia e perguntam: "De onde tu tira tanta besteira?". E quando vou a uma universidade, perguntam qual é o meu processo criativo. Costumo usar detalhes, pensando no que o personagem faria em relação a algo, como ele reagiria. Quando você cria um personagem, você é senhor e amo dele. Você manda nele, mas chega um período em que ele manda em você, tem vida própria. Você tem de criar coisas novas todo o dia.
Diário 2 - As pessoas confundem o Iotti com o Radicci?
Iotti - Há 30 anos, o meu alter ego era o Guilhermino. Eu era estudante de Jornalismo, morava no Bom Fim, tinha cabelo comprido, ganhava mesada. Acho que fui ficando cada vez mais parecido com o Radicci! Hoje, meu filho, que tem 22 anos, me chama de Radicci.
Diário 2 - Qual é o segredo para o Radicci chegar aos 32 anos?
Iotti - Acredito que é porque ele é uma figura que não é totalmente ficcional. Parece que a gente conhece uma figura assim, né? Eu ouço muito isso. "Tenho um vizinho que é igual ao Radicci", "Minha mãe é igual à Genoveva". Ele é um personagem muito local, muito nosso.
Diário 2 - Como você viu os acontecimentos em relação ao Charlie Hebdo? Qual é o limite do humor?
Iotti - Para mim, o humor não tem limite. Não é conta bancária para estar limitando. Não é preciso pedir respeito para o humorista, ele tem no DNA dele a falta de respeito. E, nesse caso do Charlie Hebdo, eu não admito, no meu ponto de vista, que as pessoas digam "mas", ou "porém". É um crime bárbaro, não tem justificativa. É a mesma coisa que justificar um estupro porque a guria estava usando uma minissaia. Aquilo foi uma barbaridade, um absurdo, por causa de uma charge. Aquela gente é louca. Humorista não pode ter limite.
Diário 2 - O que o Iotti lê? E o que o Radicci leria?
Iotti - Eu leio de bula de remédio a livro de terror. Leio de tudo, mas gosto particularmente de literatura sobre guerra. O que o Radicci leria? É uma boa pergunta, nunca pensei... Mas acho que ele gostaria do livro do Domenico de Masi, O Ócio Criativo. Define vagabundagem como atitude criativa. Muito a ver com ele.